Não tenho nenhuma dúvida que o médico Dario Saadi se preparou para ser prefeito de Campinas e fez isso com rara competência. Pois foi vereador de nada desprezíveis méritos e, dirigindo aquilo que antigamente chamavam de edilidade, passou pela cadeira deixando boas marcas. Como boas marcas deixou na Secretaria de Esportes que ocupou na administração Jonas. Sim, eu dizia que Dario se preparou para ser burgomestre, disputou eleição difícil e, feita a contagem dos votos, chegou lá. Por fim, em lá tendo chegado, a pergunta que podem estar a fazer é: e agora, doutor? Respondo: prefeito, V. Excia. queimou pestanas se ilustrando para resolver o que der e vier. Mãos à obra!
Ora, amigos, vamos falar a verdade, governar uma cidade do porte de Campinas, mais importante, em termos econômicos, sociais e culturais do que boa parte das capitais das nossas 27 unidades federativas, não é nada fácil. Afinal, um político pode muito bem se preparar com empenho para ocupar certo cargo, porém há risco de fazer isso com algo a lhe dizer, em algum escaninho d'alma, que nunca ganhará. Só que Dario ganhou, quando esta crônica sair já estará sentado no trono do quarto andar do Paço Municipal e, pelas janelas que lá vivem sempre fechadas, não poderá receber acenos dos pepinos que o esperam. Mas os receberá, disso não tenham dúvidas.
Conheci Dario apresentado pela jornalista Vivi Pavarini que, por largos anos, dirigiu a Assessoria de Imprensa da Câmara, e ele se tornou meu médico, dado que é um dos melhores urologistas do Estado de S. Paulo. De lá para cá conversamos muitas vezes e, nesses papos, mesmo não sendo eu costumeiro viajor das coisas da política, dava para perceber que o eficiente facultativo vinha se preparando para, um dia, ser burgomestre. A impressão que me transmitia, nessa época, é que já era capaz de administrar desde a necessidade de mandar arrancar um tufo de capim vadio nascido em alguma esquina, até os macros problemas da urbe, como saúde, transportes, segurança etc.
Para valer, em termos de visibilidade, a candidatura de Dario Saadi começou a aparecer, timidamente, nas redes. A pioneira manifestação que li sobre isso foi postada no Facebook pela minha amiga Lea Silvia, vice-presidente do Regatas. Imediatamente fiquei de olho e, na continuação, percebi que o nome crescia.
Uma das coisas que me dá certo otimismo em achar que Dario fará administração exemplar é a esperança que sinto, em parte da parte pensante da população, de que saberá onde colocar as mãos. Um dos meus termômetros, por exemplo, é o Café Regina. Pelo fato de que ali se reúnem pessoas que seguem tendências políticas diversas, com embates às vezes até agressivos, porém sempre em busca das ações que possam beneficiar a cidade. Pois bem, em tal tradicional ponto de encontro, num papo aqui, outro ali, tenho sentido na turma em geral sólida esperança de que o novo prefeito é realmente do ramo. E tem bom olho para atingir alvos.
Os problemas são imensos, como se sabe, e, ao afirmar isso, não estou insinuando que a administração do Jonas foi ineficiente. As grandes cidades não são cem por cento administráveis, como bem nos disse, numa entrevista coletiva em Nova York, o prefeito Rudolph Giuliani, quando lá estive cobrindo, como cronista diário da "Folha da Tarde", lances da implantação do esquema Tolerância Zero contra o crime, que fez história. O importante, acrescentou o então mandatário da Big Apple, é ir pegando pontos chaves para resolve-los. Outros, sobrarão...
Por falar em Jonas, quando S. Excia. era no Jequitibás o Caramuru, "deus do fogo e filho do trovão", sugeri, em crônica neste Correio Popular, que ele lançasse plano para plantar na cidade um milhão de árvores, pois em Campinas elas tombam e não são repostas. Donizetti, simplesmente, ignorou. Porém, enquanto isso, em Cingapura, o prefeito de lá já executava o que eu desejava para cá. Com isso ganhou belo editorial, com rasgados elogios, num dos mais importantes jornais do planeta, o "New York Times", o que levou novos investimentos para a região. E a cidade citada, no que se refere ao verde é, hoje, exemplo para o mundo. Na Europa, bem mais perto, Berlim, que foi praticamente riscada do mapa pelos petardos Aliadas na II Guerra, passados 75 anos do fim do conflito está pelo menos 100 vezes mais bem arborizada do que Campinas. E a nossa cidade, de bombas, só conhece as de S. João, as dos dias de Derby e as de padarias...
Sim, eu poderia ir longe nesse comentário, pois o que há a fazer é muito. Em Campinas, afinal, ocorrem certos fenômenos espantosos. Há, espalhados por várias cidades mais antigas do Brasil, centenas de prédios, igrejas e outros, que se degradaram e viraram ruinas em 200, 300 ou até 400 anos de abandono. Pois aqui, e acho que isso é único em nossa galáxia, o Centro de Convivência Cultural ficou reduzido a quase cinzas, a escombros, do dia para a noite. Algo me diz que sua tardia recuperação será um dos primeiros feitos de Dario. Amém!
Para terminar, cito outro pepino que vem se alongando há anos à espera de solução. E nem vou coloca-lo em minha boca, mas na da empresária Eliana Silvia Junqueira Nogueira, minha amiga, que transita na área de imóveis.
--- Já que você conhece o novo prefeito – pediu -- solicite a ele que não esqueça de atacar a recuperação do centro velho de Campinas, degradado ao extremo; está de dar dó.
Pois é, como bem disse o alcaide nova-iorquino Rudolph Giuliani, nenhuma grande cidade é 100 por cento administrável. Se Dario Saadi conseguir, e tem cabedal para isso, atingir pelo menos uns 80 ou 90 por cento, estamos salvos. Boa sorte, doutor. Para V. Excia. E para nós.