TEMPO

Cada vez mais rápido

Juliana Franco
25/05/2015 às 08:55.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:43
A sensação de que o tempo está ?voando? fica mais forte à medida que as pessoas envelhecem, dizem pesquisadores (Divulgação)

A sensação de que o tempo está ?voando? fica mais forte à medida que as pessoas envelhecem, dizem pesquisadores (Divulgação)

Você deve demorar uns quatro minutos para ler as 1.100 palavras desta reportagem. Um pouco mais, um pouco menos, dependendo do seu ritmo. Estima-se que a velocidade de leitura de um adulto chega a 350 palavras por minuto. Bom, quatro minutos não é muito, mal dá para lavar a louça do café da manhã. Um dia continua com 24 horas, uma hora vale 60 minutos e cada minuto ainda tem 60 segundos. Mas a sensação é generalizada de que não se consegue mais fazer tudo o que deseja. Falta tempo.O profissional de marketing Rodrigo Caetano, de 36 anos, está vivendo um momento único em sua vida: há dois meses se tornou pai do Lucas. E, para ele, o tempo parece voar. “Casei há quatro anos e parece que foi ontem. Hoje, o meu filho já tem dois meses. O tempo passa nas asas de um avião, como diria Humberto Gessinger”, afirma.Para aproveitar cada momento do seu primogênito, diante das mil responsabilidades e compromissos diários, dedica todo o tempo livre ao pequeno. “Não consigo ficar longe dele”, revela.A comunicadora social Jack Brossi Miori, de 29 anos, também tem a sensação de que o tempo voa. Para driblar a situação, ela foca nas ações que considera mais importantes e relevantes. “Tenho a sensação do tempo passar muito rápido devido à quantidade de informações que acesso diariamente e me parece que quanto mais me mantenho conectada, menos percebo o tempo. Então, foco nos afazeres diários e seleciono os tipos de informação que quero para mim, sobre o que quero pensar”, explica Jack, que acrescenta: “Além disso, me imponho momentos de descanso e contato físico com as pessoas que são importantes em minha vida”.Já para a jornalista Cristiane Bonin, de 36 anos, o acúmulo de responsabilidades é o responsável por esta sensação. “Lembro que quando era criança os anos demoravam para passar. O período de aulas demorava para acabar e as férias nunca chegavam. Agora, o ano passa em um piscar de olhos”, revela.São várias as hipóteses para o fenômeno. De acordo com o professor de filosofia da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), José Lima Júnior, o tempo é uma realidade cronológica para a sensação natural. “É uma intencionalidade psicológica para uma percepção cultural. A temporalidade que dá a impressão de maior ou menor tempo é influenciada pelo desejo ou pela nostalgia. A explicação, portanto, é 'científica' se aceitarmos a psicologia como uma ciência humana beirando a prática sociointerpretativa”, explica.Texto publicado na edição 211 da revista Superinteressante diz que quando a pessoa experimenta alguma coisa pela primeira vez, mais dados são armazenados em sua memória. Isso ocorre, por exemplo, quando ela vai pela primeira vez ao sítio de um amigo. Como não sabe o caminho, seus sentidos ficam mais ligados, absorvendo cada detalhe do trajeto. Nas outras vezes que volta lá, já conhece a rota e parece que ela encurtou, como se a primeira ida tivesse demorado mais. O mesmo vale para a nossa vida em geral - uma vez que muitas experiências são repetição do que já vivemos antes. Outra hipótese apresentada pela publicação está associada à idade de cada pessoa. Para um jovem de 12 anos, por exemplo, chegar aos 18 parece levar uma eternidade. Afinal, os seis anos de diferença correspondem à metade do tempo já vivido pela pessoa. Já para alguém que está na casa dos 60 anos, os mesmos seis anos representam apenas 10% de sua vida. Por isso, em geral, a sensação de que o tempo está voando fica mais forte à medida que as pessoas envelhecem. Por fim, há ainda quem afirme que, como vivemos num cotidiano cada vez mais acelerado, impulsionado pelos avanços tecnológicos, estaríamos nos distanciando de um suposto ritmo biológico natural, mais lento. Esse descompasso é que daria a impressão de que o tempo “voa”.CAUSASPara o professor Lima Júnior, a sensação de que o tempo passa rápido causa eventual desconforto, o que é próprio da condição humana. “A situação é um caso de vantagens e desvantagens, avaliados em cada ocorrência, em cada experiência corpórea”, afirma.A dica do docente para que o tempo seja melhor aproveitado é, em primeiro lugar, tentar fazer uma coisa de cada vez. “Isso gera a oportunidade de se fazer com mais atenção e mais cuidado. O resultado contribuirá para a percepção da importância ao processo de aprendizado da priorização. O que vale mesmo, ainda que passageiro, deve ser plantado, colhido, cozinho e degustado. Se possível em todos esses momentos e movimentos de produção e fruição”.Ainda segundo texto publicado pela revista Superinteressante, o resultado dessa avidez para “ganhar” tempo é que estamos cada vez mais com a sensação de perdê-lo. Pesquisadores afirmam que uma pessoa, hoje, sente que ele passa mais rápido do que para alguém que viveu há cem anos. E dão até uma estimativa de quanto: de 1,08 vez, para quem tem 24 anos, a 7,69 vezes, para quem tem 62 anos – a diferença seria causada pelo período de exposição à vida em alta velocidade.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por