A queda dos focos de incêndios é resultado da Operação Estiagem desenvolvida justamente em parceria inédita com o Inpe
Enquanto as queimadas na Amazônia geraram polêmica e ganharam repercussão internacional no último mês de agosto, Campinas comemorou uma redução dos focos de incêndios na cidade de 66,9% com relação aos dados de 2018. A queda dos focos de incêndios é resultado da Operação Estiagem desenvolvida justamente em parceria inédita com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), responsável pelo monitoramento da floresta amazônica. Números da Defesa Civil apontam para 142 registros entre maio e setembro de 2019 diante de 212 no mesmo período do ano passado. “Ainda tivemos um setembro atípico com o maior número de ocorrências já registrado para o mês, que geralmente tem mais chuvas. Foram 67 somente neste setembro”, comenta Sidnei Furtado, coordenador do órgão. Em Campinas, o sucesso da operação está na prevenção. Durante o período, os técnicos do órgão revezaram-se em seis equipe para monitoramento 24horas das imagens fornecidas pelos satélites do INPE, com foco em alertas para possíveis pontos de incêndio. Com a estratégia, o número de vistorias preventivas aumentou 83%, chegando em 454 este ano, contra 242 de 2018. “Tivemos um resultado muito satisfatório e pretendemos implantar a metodologia em outras cidades da região em 2020”, explica Furtado. “Os dados do Inpe estão disponíveis para qualquer munícipio. Agora esse é um trabalho que, evidentemente, exigiu uma ampliação no número de viaturas e das vistorias diárias”, conta o coordenador. A Operação Estiagem é uma parte do trabalho que a Defesa Civil vem desenvolvendo em Campinas desde 2003. Naquele ano, 6 pessoas morreram após forte temporal que deixou 12% da cidade inundada. Este foi o maior número de vítimas do município em desastres naturais. Antes, em 1990, duas mil pessoas ficaram desabrigadas, também após período de chuvas no mês de janeiro. “Foram duas situações muito desesperadoras e que nos fizeram pensar em como prospectar cenários e nos preparar para minimizar efeitos, em casos de novas ocorrências. Entendemos que era importante trabalhar a prevenção e também um alinhamento das políticas públicas”, diz Furtado. Em 2005, a cidade passoua seguir os protocolos da ONU para redução de desastres ambientais/naturais, projetando alterações para os próximos 10 anos. Entre eles, estava o desafio de estabelecer uma estrutura organizacional para identificar os processos necessários na compreensão de como reduzir a exposição, o impacto e vulnerabilidade a desastres. A redução de 74 para 30 áreas de riscos foi uma das primeiras conquistas desse mapeamento. Riscos De acordo com o diretor da Defesa Civil, Sidnei Furtado, a maioria dos focos de incêndios concentra-se em terrenos em áreas residências e não consideradas de riscos. Para ele, essa estatística evidencia a importância da mobilização social no trabalho do órgão. “Hoje temos um conjunto de ações que nos colocam, enquanto autoridades, como referência. Um exemplo é projeto Nutrir, que oferece um cartão ativo para moradores, em casos de ocorrências, como alternativa ao armazenamento de alimentos que poderiam estragar. Temos os canais de informação de dados em tempo integral, seja pela internet, ou pelo 199, mas apesar disso a conscientização ainda é um desafio”. A questão levantada por Furtado faz refletir sobre o fato de que, além de agredir o meio ambiente, a queimadapela fumaça, pode trazer problemas de saúde aos moradores. Da mesma forma que uma garrafa plástica descartada incorretamente pode, não só ser o local de criadores do aedes aegypti, mas entupir bueiros durante temporais e causar estragos. Inpe Outra mudança positiva apontada por Furtado, após parceria com o Inpe, está na conduta em casos de flagrantes de focos de incêndio. SE antes, muitas vezes aplicava-se multa nos responsáveis, hoje, graças a uma parceria com a Secretaria do Verde, e ao trabalho de prevenção, existe maior diálogo e a possibilidade de uma reparação revertida ao município, com características mais sociais, como a compra de equipamentos respiratórios para unidades de saúde da área envolvida. A Defesa Civil de Campinas tem dez viaturas, sendo que 7 delas possuem tanque de 400 litros de água acoplado que permite ao técnicos fazerem um primeiro combate ao incêndio, enquanto aguardam os Bombeiros. Políticas públicas integradas consolidam a resiliência O grande mérito de Campinas, conforme o diretor da Defesa Civil, Sidnei Furtado, está na integração de políticas públicas para a redução de riscos e desastres. Sendo assim é fundamental a união de forças. E neste sentido, ele destaca, por exemplo, a parceria com a Universidade Estadual de Campinas, desde 2017, no chamado Geotrês que discute sustentabilidade e resiliência. Um dos primeiros trabalhos, em parceria com os pesquisadores da universidade, foi um estudo na região do Vale das Garças. “Neste caso, fizemos uma mapeamento comunitários das áreas de risco. Fomos ouvir os moradores e o que eles podiam nos dar de informação”. Outro foco da parceria com a Unicamp é o Escola Segura, que faz uma análise da localização das escolas e de sua segurança, em caso de desastres. Neste mês, a defesa civil de Campinas inicia uma série de debates com a equipe de Petrópolis, no Rio de Janeiro, para conhecer um projeto local que trabalha a prevenção com alunos. “Um de nossos desafios ainda é como preparar as pessoas, em casos de desastres. Ensinar os jovens a como gerar a auto proteção do cidadão”. O debate sobre alterações climáticas e seus efeitos também é fundamental, especialmente com as futuras gerações. “Para mim não cabe discutir a existência das alterações climáticas porque é evidente existem e estamos sentindo seus efeitos. A discussão tem que ser planejar o futuro, estudar formas de resiliência”, acredita. Como forma de aproximar o trabalho com a comunidade está o portal http://www.resiliente.campinas.sp.gov.br. Cidade fatura Sasakawa das Nacões Unidas Campinas restabeleceu seu compromisso com os protocolos da ONU em 2015, ao adotar as determinações do chamado Marco de Sendai, que estabelece metas para redução de mortes, destruição e deslocamentos causados por desastres naturais até 2030. O planejamento está também alinhado com 17 objetivos de desenvolvimento sustentáveis da ONU (os chamados ODS). Em maio deste ano, a cidade foi premiada com o primeiro lugar no troféu Sasakawa, concedido pelas Nações Unidas, para o trabalho desenvolvido pela defesa Civil em prol da Redução de Riscos de Desastres. A premiação ocorreu no dia 16 de maio em Genebra, na Suíça. O diretor da Defesa Civil de Campinas representou o município na cerimônia. Esse é o mais importante prêmio internacional concedido a instituições que tomam iniciativas ativas na redução de riscos de desastres. Campinas concorreu ao prêmio com 61 candidaturas de 31 países e o Departamento da Defesa Civil de Campinas foi o escolhido pela abordagem única de comunidade sustentável e pelo compromisso com a inclusão de todos os grupos vulneráveis no mapeamento para mitigação de riscos. O prêmio é concedido a cada dois anos. “É a premiação mais importante da Defesa Civil e demonstra a importância da integração de ações e políticas públicas entre diferentes setores e esferas de governo. O prêmio faz uma análise criteriosa do trabalho desenvolvido, são quase dois meses de estudo para aceitar a inscrição. É como se fosse um Oscar”, disse Sidnei Furtado.