Apesar de continuar na fase laranja, alta no número de casos leva prefeito a reforçar isolamento
A princípio, o fechamento novamente do comércio tem validade de uma semana, mas pode ser prorrogado (Wagner Souza/AAN)
O comércio de rua e shoppings voltarão a fechar a partir de segunda-feira para tentar aumentar o isolamento social e frear a disseminação em Campinas do novo coronavírus, que já infectou 5.228 pessoas e matou 203 na cidade. O prefeito Jonas Donizette (PSB) anunciou ontem, em live, que atende à recomendação do Estado, feita em nota técnica pelo Comitê de Contingenciamento da Covid-19 e também da área de Saúde municipal. Jonas também vai ampliar para a rede privada a proibição de realização de cirurgias eletivas. Assim, comércio de rua e shoppings serão fechados novamente por uma semana. O setor de serviços poderá continuar funcionando dentro das regras sanitárias que estão em vigor. O Comitê de Contingenciamento da Covid-19 do Estado manteve as 42 cidades da região na fase laranja, a atual, mas alertou para a situação preocupante de Campinas e pediu ao prefeito Jonas Donizette a regressão de fase, que foi atendida parcialmente. Dois decretos serão publicados hoje em edição especial do Diário Oficial. Um, proíbe os hospitais particulares da cidade de realizarem cirurgias eletivas (que podem esperar), para aumentar a possibilidade de uso de leitos para pacientes da Covid-19. Outro, determina o fechamento de comércio de rua e shoppings por uma semana a partir desta segunda-feira. A região está na fase laranja desde 1º de junho, com exceção de Campinas, que iniciou a flexibilização uma semana depois, após avaliação do prefeito Jonas Donizette (PSB) da falta de garantias totais de que os leitos contratados estariam em operação na primeira semana do mês. A situação, no entanto, ainda segue preocupante. Segundo Jonas, a alta ocupação de leitos levou à decisão de fechar comércio por uma semana, data que poderá ser prorrogada, se houver necessidade. “Quanto mais leitos entram em operação é como se estivéssemos enxugando leitos, porque os casos de Covid-19 continuam aumentando”, disse. Ele afirmou que quer mostrar que a situação não está dentro da normalidade, e tem pessoas com dificuldade de compreensão que o momento exige o isolamento social. A medida, disse, traz também um alento a quem está na linha de frente do combate da pandemia. O endurecimento das regras da retomada parcial das atividades vai durar por uma semana. E poderá ser prorrogado. A taxa de ocupação hospitalar em Campinas atingiu ontem 86,82% — dos 334 leitos de UTI, 296 estavam ocupados —, com maior pressão sobre o SUS municipal, que novamente chegou a 100%, e estadual (AME e Unicamp), que subiu para 95%. Na rede privada, que atende pacientes particulares e de planos de saúde, a ocupação aumentou para 77%. Na avaliação do secretário municipal de Saúde, Carmino de Souza, o fechamento do comércio vai ajudar na batalha pelo enfrentamento da disseminação do novo coronavírus. “As imagens da aglomeração de pessoas no Centro marcaram muito. Pessoas com crianças nas ruas preocuparam, porque estamos com queda de doenças respiratórias entre elas, uma vez que, sem aulas, ficaram em casa. Mas se continuarem saindo podemos ter muitos problemas”, disse. Além disso, afirmou, essa semana houve aumento de internações de pacientes não Covid e apesar da ampliação de leitos, a avaliação dos técnicos foi pela adoção de prudência e pelo fechamento. Setor questiona o futuro das atividades no município O fechamento do comércio de rua e dos shoppings de Campinas a partir da próxima segunda-feira foi recebido com preocupação por representantes do setor. Apesar de entenderem os motivos do fechamento, alegam que do jeito que a situação vem sendo tratada pelas autoridades, a sobrevivência do comércio regional está sendo colocada em xeque. Adriana Flosi, presidente Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), afirmou que situação pede mais comprometimento da população e do poder público. "Nós estamos muito preocupados com a sobrevivência dessas empresas e com a sobrevivência dos empregos que elas geram. Obviamente, sabemos dos motivos que levaram a esse fechamento e acho que a partir de agora tem que haver um comprometimento muito maior por parte de todos, principalmente da população", disse ela. Já o advogado e presidente da Comissão de Shoppings Centers da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Campinas, Gustavo Maggioni, argumentou que vê com muita preocupação o fechamento dos shoppings. "As lojas vinham cumprindo todos os protocolos e o próprio prefeito disse que a reabertura não registrou nenhum incidente. Ou seja, ocorreu tudo bem e o pessoal estava respeitando as regras", disse ele. "O grande problema é que os lojistas tiraram os funcionários da suspensão do contrato, os trouxeram para trabalhar e agora ficaram com o custo dessa mão de obra. Além disso, eles também compraram estoques", ressaltou. Maggioni questionou a falta de decisão mais firme e menos confusa da Prefeitura com relação à abertura dos estabelecimentos na cidade. "A gente entende que a região está com aumento de casos, mas essa instabilidade do setor é muito preocupante, porque toda essa mão de obra que voltou a trabalhar se tornou agora custo e gera uma incerteza se na próxima semana vai poder reabrir.".