terceira idade

Cuidador: relação além da profissão

Roberta Dias, de 29 anos, descobriu na atenção aos idosos o seu ofício. Prestativa e comunicativa, a jovem campineira começou a trabalhar como cuidadora

Henrique Hein
03/02/2019 às 08:59.
Atualizado em 05/04/2022 às 09:43

Roberta Dias, de 29 anos, descobriu na atenção aos idosos o seu ofício. Prestativa e comunicativa, a jovem campineira começou a trabalhar como cuidadora há quase três anos e, desde então, nunca mais abandonou a carreira. Formada em terapia ocupacional na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), a jovem teve seu primeiro contato com a profissão ainda na universidade, quando procurava um estágio na área no período da tarde e noite. Frustrada com o mercado, que não a oferecia opções, Roberta decidiu aceitar o convite de uma família para cuidar do aposentado José Aristeu, de 69 anos – o popular ‘seo Ary’, nome carinhoso pelo qual ela gosta de chamá-lo. No começo, a relação entre os dois era crua, muito por parte do aposentado, que demorou para se adaptar à presença de Roberta em sua casa. “No início, ele não se conformava com o fato de eu passar o final de semana inteiro na casa dele. Ele sempre me perguntava se não tinha amigos ou coisa melhor para fazer do que ficar cuidando de um velho. (..) Na cabeça do seo Ary, os jovens sempre saem à noite nos finais de semana para se divertir e, sabendo disso, ele ficava muito sentido, porque achava que estava me prejudicando”, comenta. Com tempo, o laço entre ela e o médico aposentado se fortaleceu de tal maneira que deixá-lo sozinho hoje está fora de cogitação. “Eu sou suspeita para falar dele, porque é um homem que eu admiro e tenho um carinho imenso, para não dizer que o amo”, explica. “Ele é muito carinhoso e necessita muito de atenção, porque, como a família não tem muito tempo disponível para ficar com ele, ele vê em mim uma figura que vai muito além de uma simples cuidadora. Ele me vê como uma pessoa que faz parte da sua família”, afirma. Questionada sobre quais são as maiores dificuldades de lidar com um idoso, Roberta foi categórica, afirmando que para ela cuidar de pessoas jamais será um problema. “Meu papel como cuidadora está longe de apenas dar carinho e amor. Nossa função é receber amor também. É deitar no colo, fazer afago, falar coisas bonitas e que façam eles se sentirem especiais, mas, ao mesmo tempo, é deixá-los nos dar amor também, porque a gente dá amor, mas também recebe muito amor”, diz. Para Roberta, cuidar do outro e se doar pelo outro requer muito esforço e compaixão. “Eu sou cuidadora porque amo cuidar e me sinto bem sabendo que estou fazendo o dia de alguém um pouco mais feliz. Quem é cuidador deixa muitas coisas para trás para seguir a profissão: deixa a família, os amigos, as festas e confraternizações, só para estar ali: fiel aos seus pacientes”, conclui. Ocupação cresce no País em dez anos e deve continuar avançando Histórias como a de Roberta e seo Ary estão se tornando cada vez mais frequentes no mundo atual, devido ao crescimento no número de brasileiros que estão se sensibilizando com a importância de cuidar e preservar a vida dos mais experientes. De acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho – que analisou o período entre os anos de 2007 e 2017 – a profissão de cuidador de idosos foi a que mais cresceu nos últimos dez anos no Brasil, passando de 5.263 profissionais em 2007 para 34.051 em 2017, um aumento de 547%. Deste total, 85% dos profissionais são mulheres com o Ensino Médio completo. São Paulo foi o estado onde ocorreu a maior expansão, com 11.397 postos de trabalho criados no período; na sequência aparecem Minas Gerais, com 4.475 postos, e Rio Grande do Sul, com 2.288. O avanço no número de cuidadores de idosos, que fez com que a profissão atingisse o topo do ranking publicado pelo Ministério do Trabalho, vai ao encontro com o aumento da população idosa como um todo. Segundo projeções da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Fundação Seade), apenas na Região Metropolitana de Campinas, a população acima de 60 anos triplicará até 2050, registrando um acréscimo de 1,59 milhão de pessoas. Qualificação Jéssica Pontes, é enfermeira e proprietária de uma empresa, sediada em Campinas, que é responsável por qualificar cuidadores e realizar a gestão desses profissionais em domicílio na região. Ela explica que o trabalho desenvolvido por esses profissionais vai muito além do cuidado com as necessidades básicas do paciente. “O cuidador tem o papel de estimular novos conhecimentos, atividades de lazer, recreação e cultura, a fim de proporcionar ao assistido bem-estar e qualidade de vida”, destaca.  Além do Curso de Qualificação para Cuidadores de Idosos, a empresa de Jéssica foca na assistência em domicílio, que vai desde o processo de admissão de profissionais, passando por treinamentos, monitoramento e a gestão das equipes já no exercício da função. Para ela, a qualificação desses profissionais é necessária para que o cuidado seja “humanizado e personalizado a cada paciente, sem privá-lo de sua autonomia e independência. Além disso, é preciso criar um vínculo entre cuidador, paciente e familiares. Assim a assistência será efetiva”, explica.

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