TRANSPORTE PÚBLICO

Emdec anuncia mais ônibus após quebras e incêndios

Administração divulgou ontem a entrada de 60 novos veículos no sistema

Bruno Luporini/[email protected]
05/07/2025 às 09:01.
Atualizado em 05/07/2025 às 09:22
Ao adotar a medida emergencial, a empresa reconhece que parte da frota do transporte coletivo de Campinas está envelhecida e que o número de quebras aumentou significativamente nos últimos meses (Kamá Ribeiro)

Ao adotar a medida emergencial, a empresa reconhece que parte da frota do transporte coletivo de Campinas está envelhecida e que o número de quebras aumentou significativamente nos últimos meses (Kamá Ribeiro)

Os recorrentes casos de quebras, problemas mecânicos e até mesmo incêndios envolvendo ônibus do sistema de transporte público de Campinas levaram a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) a anunciar a entrada de 60 novos veículos em operação na cidade. A medida acontece em meio a ocorrências que expuseram as más condições dos veículos do sistema de transporte campineiro. Na manhã da última quinta-feira, dia 3 de junho, um ônibus da linha 210 perdeu uma roda dianteira enquanto trafegava pelas ruas. Antes disso, outros quatro veículos pegaram fogo em um intervalo de quinze dias.

Em abril deste ano o poder público já havia anunciado a contratação de outros 50 ônibus. No entanto, apenas 30 já estão em operação. Na ocasião, a promessa era de que todos os carros estivessem circulando em poucas semanas. A administração justificou que o prazo inicialmente acordado para a operação de parte dos veículos precisou ser estendida em função dos processos que envolvem a aquisição dos equipamentos. Com os 60 novos ônibus anunciados, serão 110 carros novos circulando no transporte público da cidade. O sistema de transporte público de Campinas conta hoje com 1.086 veículos.

Enquanto os novos veículos não chegam, a população continua amargando uma difícil rotina para se locomover por Campinas. Entre 2024 e 2025, o número de quebras aumentou em praticamente 50%. No período de janeiro a junho do ano passado foram registradas 8.492 ocorrências, enquanto neste ano o número subiu para 12.737. Quando consideradas as quebras por mês, o Correio Popular havia destacado que em fevereiro deste ano ocorreram 42 ocorrências por dia em média. No entanto, a atualização mostrou um aumento de casos diários. Foram registradas 58 quebras diárias em março e 106 em abril. No mês de maio, os casos diminuíram para 92 e em junho a Emdec registrou 90 quebras por dia.

Sobre o aumento das ocorrências envolvendo problemas mecânicos, a Emdec também esclareceu que a partir de abril deste ano reforçou as orientações aos operadores para que todas as situações de quebras fossem devidamente justificadas no sistema de monitoramento."O número médio de quebras continua muito alto, mas caiu", considerou Vinicius Riverete, presidente da Emdec.

De acordo com a autarquia, os números envolvem ocorrências de pane elétrica, pane mecânica ou problemas no elevador dedicado às pessoas com necessidades especiais. A empresa destacou que, uma vez constatada a falha, os operadores são autuados por viagens não realizadas. No primeiro semestre deste ano, foram 22,2 mil autuações aplicadas. O número é superior às 22 mil autuações aplicadas em todo o ano de 2024.

Entre os incidentes que mais se destacaram estão quatro ônibus que pegaram fogo em um espaço de 15 dias. No dia 3 de julho um veículo articulado de prefixo 3243 operava na linha 332 e transportava cerca de 80 passageiros, mas todos conseguiram sair a tempo e ninguém ficou ferido. No dia 25 de junho, o ônibus prefixo 300 da linha 362, por volta das 13h10, começou a subir a Rua Major Solon logo ao sair da Avenida Orosimbo Maia. Foi quando o motorista do veículo, Daniel Tartani, ouviu um estalo vindo da parte debaixo da viatura. O incêndio começou na sequência e consumiu a viatura em questão de minutos, atingindo também três carros que estavam estacionados nos arredores. Ninguém ficou ferido. Uma semana antes, em 17 de junho, um ônibus sem passageiros da linha BRT25, prefixo 2.540, pegou fogo na Rodovia Anhanguera (SP-330). O veículo tem inspeção veicular válida até 30 de novembro deste ano, segundo a Emdec. Dois dias depois, em 19 de junho, um ônibus reserva da empresa Itajaí, prefixo 2.963, pegou fogo enquanto estava estacionado dentro do Terminal BRT Campo Grande. Nesse caso, o veículo tem inspeção veicular válida até 31 de dezembro deste ano.

Por conta desses casos registrados, a Emdec iniciou no dia 26 do mês passado uma inspeção emergencial de toda a frota do sistema de transporte. O sistema elétrico dos ônibus é o principal foco das inspeções de emergência. Serão verificados componentes ligados ao motor de partida; bateria e compartimento de bateria; vazamento de óleo lubrificante e combustível; isolamento térmico do motor e isolamento do escapamento.

Ontem a autarquia informou que foram 121 veículos inspecionados desde o começo da ação. Dessa forma ainda restam 965 veículos a serem inspecionados até o dia 31 de julho, prazo inicial dado pela Emdec. "Se demos esse prazo vamos trabalhar para cumprir", afirmou Riverete. O presidente afirmou que as operadoras estão empenhadas em solucionar os problemas, mas com a frota envelhecida é difícil normalizar a situação. "Às vezes arruma em um dia e quebra no outro."

Segundo a Emdec, a renovação da frota atende a pedido do prefeito Dário Saadi e é acompanhada pela própria autarquia e pela Secretaria de Transportes (Setransp). "Sabemos da necessidade urgente de oferecer um transporte de melhor qualidade aos usuários. Por isso, estamos buscando alternativas para renovar a frota antes mesmo da licitação. Já são 30 novos veículos circulando e, com mais este lote, teremos mais de 100 novos ônibus no total", afirmou Saadi. Do novo lote de 60 ônibus, dez estão prestes a começar a operar e outros nove estão em fase de montagem e inspeção.

Para o vereador Gustavo Petta (PCdoB), a situação da alta quantidade das quebras é fruto do descaso do poder público. "A fiscalização em relação às empresas é muito frouxa e isso tem permitido esse descaso das empresas com os usuários, ônibus velhos, ônibus para além do tempo de uso recomendado e previsto no próprio contrato", afirmou o vereador que também é membro titular da Comissão de Mobilidade Urbana e Planejamento Viário (CMUPV), da Câmara Municipal. Dentro da comissão, Petta afirmou que cobranças são feitas junto ao poder público e que já foi aberto um diálogo com o Ministério Público do Estado de São Paulo. (MPSP).

Procurado, o MPSP, afirmou que a licitação do transporte coletivo de Campinas é objeto do Procedimento Administrativo de Acompanhamento, atualmente em andamento com a análise de diversos aspectos referentes ao assunto. "Outrossim, não houve, por ora, representação registrada na Promotoria sobre os casos específicos de incêndios em ônibus."

Sobre a vistoria emergencial realizada pela Emdec, Andréia Marques, do Conselho Municipal de Mobilidade Urbana (CMMU), afirmou que a medida não é uma solução, mas sim uma remediação. "Solução seria se fosse identificado e cessado a raiz do problema". Até agora não foram divulgados os laudos com as causas dos incêndios nos quatro veículos.

Riverete reconheceu o envelhecimento de parte da frota atual e a urgência em renovar todo o sistema, por meio da licitação. "Mas também estamos buscando soluções imediatas para minimizar os impactos aos usuários, que dependem dos ônibus para realizar seus deslocamentos". No último dia 2, a consulta pública para a nova licitação foi encerrada com 1.130 participações. A expectativa é de que em um prazo de 15 dias seja divulgado o cronograma para a publicação do edital. Com o edital oficialmente publicado, serão mais 45 dias úteis para que as empresas, ou consórcios, interessados na licitação elaborem as propostas. Terminado esse prazo, os envelopes serão abertos.

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