VAREJO

Greve de caminhoneiros afeta preços e oferta de produtos

Ceasa e supermercados apontam queda na entrega de hortifrutigranjeiros devido bloqueios; rede de supermercado teve trocar fornecedor de carne para garantir abastecimento

Adriana Leite
26/02/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 00:33
Protesto de caminhoneiros que fechou parte da Fernão Dias, na altura de Igarapé, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ontem (Eugenio Moraes/ AE)

Protesto de caminhoneiros que fechou parte da Fernão Dias, na altura de Igarapé, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ontem (Eugenio Moraes/ AE)

A greve de caminhoneiros que atinge o País preocupa os empresários da região de Campinas. Além do receio de atraso na entrega das cargas e de risco de desabastecimento de produtos, a possibilidade de o frete subir novamente já leva as empresas refazerem as contas. Com as altas do diesel nos últimos três meses, o impacto médio no custo do transporte foi de 10%.   Outro problema ocasionado pela mobilização dos caminhoneiros autônomos é que cargas perecíveis, que saíram daqui para regiões onde há bloqueios nas rodovias, mudaram do modal rodoviário para o aéreo elevando o custo do transporte. Na Centrais de Abastecimento de Campinas (Ceasa), houve uma diminuição de 75% na oferta de mamão e tomate nesta semana. Boa parte do volume desses dois produtos vem das regiões Norte, Nordeste e Sul.   De acordo com a direção do entreposto, houve um aumento na quantidade de atendimentos de empresas que não são frequentadores assíduos do local. Outros grandes mercados, como a Companhia de Entreposto e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), em São Paulo, registraram declínio na oferta de produtos como maçã, pera e melancia.    Na gôndola   Foto: Cedoc/RAC Rede Pague Menos teve de recorrer a novo fornecedor para garantir a entrega de carne No varejo, as redes de supermercados locais mantêm estoques regulares e ainda não tiveram nenhum anúncio de fornecedores de escassez de produtos. Entretanto, a Rede Pague Menos não conseguiu receber nesta semana alguns perecíveis que foram comprados no Paraná. A empresa teve que buscar às pressas em São Paulo um fornecedor para atender as lojas localizadas em Campinas e região. Em nota, o gerente comercial da rede, João Antonio de Souza Júnior, afirmou que não é contra a paralisação dos caminhoneiros, mas ela traz impactos para o setor.   "Com a greve dos caminhoneiros a Rede de Supermercados Pague Menos não conseguiu receber esta semana alguns perecíveis, como a carne que havia sido comprada do Paraná. Desta forma, a empresa teve que encontrar às pressas um fornecedor em São Paulo que cumpriu o prazo", informou.   Reflexo nos preços   Ele salientou que "por enquanto não houve aumento de custo para a empresa" . "Mas dependendo das negociações entre empresas e caminhoneiros podem ser que valores de frete, por exemplo, sofram aumento significativo" , disse.   O executivo comentou que, se a greve se estender por mais dias, produtos como arroz, que vem da região Sul, e óleo, produzido no Mato Grosso, poderão faltar. "Os perecíveis são a maior preocupação. Os legumes e as verduras já apresentam aumento de preço em função da crise hídrica. No caso das frutas, o cenário fica mais complicado, pois vêm de regiões bem distantes como Petrolina (Pernambuco) e de outras cidades de Minas Gerais", afirmou em nota.   Queda na oferta   A Ceasa informou que "até o momento enfrenta apenas diminuição na oferta de hortifrutigranjeiros" . De acordo com a direção do entreposto, a única mudança na rotina logística e de transporte foi o aumento no atendimento de consumidores que não são frequentadores assíduos. O comando da central salientou em nota que "acompanha com preocupação os acontecimentos" .   Foto: Cedoc/RAC Tomate, que vem de regiões onde há bloqueios na estrada, teve queda na oferta, mas sem causar falta do produto De acordo com a Ceasa, há "produtos oriundos de regiões que circulam pelos Estados do Norte, Nordeste e Sul, principalmente, como o mamão e o tomate, que não conseguem chegar ao destino, refletindo diminuição da oferta, mas não acarretando falta de produtos". A direção do entreposto observou que "há comprometimento tanto da quantidade, quanto da qualidade, à medida que a paralisação se prolonga" . Prejuízos no setor O vice-presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo (Fetcesp), Carlos Panzan, afirmou que as reivindicações dos caminhoneiros são legítimas, contudo os bloqueios nas estradas causam prejuízos para as empresas e a população. "As empresas de transporte que precisam enviar mercadorias perecíveis urgentes, como medicamentos oncológicos, alteraram o modal de rodoviário para aéreo. Não há como deixar um medicamento ou produto perecível parado na estrada" , disse.   Ele ressaltou que o custo da troca de meio de transporte é repassado para o cliente. "Imagine quanto está pesando para o setor produtivo essa paralisação. As empresas já vêm sofrendo com aumento de custos como combustíveis e energia elétrica. Agora ficam com cargas paradas nas estradas e pagam mais caro em fretes urgentes com a troca de modal", afirmou.   Coleta suspensa   Panzan observou que há transportadoras que estão suspendendo a coleta de mercadorias perecíveis cujos destinos são para regiões com estradas bloqueadas. O diretor Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Estado de São Paulo (Sindasp), Regional de Campinas, Elson Isayama, afirmou que há problemas pontuais de demora na locomoção de cargas da região para o Porto de Santos. "A paralisação ainda não teve um grande impacto na região. Mas se a mobilização continuar, vai gerar muitos prejuízos. Não há registro de problemas no Aeroporto Internacional de Viracopos" , disse.   Ele ressaltou que nos últimos três meses o frete teve uma elevação média de 10%. "Um novo aumento vai onerar ainda mais o setor produtivo e a alta será repassada para o bolso do consumidor. A situação é preocupante. Os custos no Brasil estão em uma escala forte neste ano", salientou.

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