VACINA

HC da Unicamp investiga se paralisia que atingiu enfermeiro foi causada pela vacina Oxford/ AstraZeneca

Pacheco sofreu uma reação adversa grave; assessoria do Hospital das Clínicas afirma que está investigando o caso

Raquel Valli/ Correio Popular
22/04/2021 às 18:21.
Atualizado em 21/03/2022 às 22:03
Jocimar Rodrigues Pacheco, de 44 anos, sofreu uma reação adversa grave (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

Jocimar Rodrigues Pacheco, de 44 anos, sofreu uma reação adversa grave (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp investiga o caso de um enfermeiro que trabalhava no hospital, mas que precisou ser afastado por ter ficado com o rosto, os braços e as pernas paralisados após tomar a vacina Oxford-AstraZeneca. Jocimar Rodrigues Pacheco, de 44 anos, tem uma doença chamada ceratocone, e precisa usar lentes de contato para poder enxergar. Mas por causa da paralisia que atingiu os dois lados da face, não consegue piscar os olhos, o que o impede de usar as lentes de contato. Sem elas, só enxerga com 20% da visão. Também não consegue sorrir e mal consegue falar. De acordo com o laudo médico, ao qual o Correio Popular teve acesso, Pacheco sofreu uma reação adversa grave.

"Nós vamos esgotar todas as medidas possíveis para investigar o que está acontecendo. Não podemos afirmar nada ainda. Estamos fazendo uma série de investigações. Não existe nenhuma relação causal até o momento, mas nós estamos investigando", informou o HC, por meio da assessoria de imprensa.

Com fisioterapia, Pacheco conseguiu voltar a ficar em pé. Caminha com dificuldade, mas consegue andar. Quanto ao rosto, a previsão é que ele saberá se ficará com sequelas permanentes, ou não, só daqui a um ano. "Talvez eu nunca tenha uma melhora completa. E eu tinha uma vida normal. Era atleta. Lutava. E hoje sou um cara que depende da ajuda da esposa para tudo. E eu me sinto muito mal. A gente toma a vacina e pensa que vai ficar protegido", afirmou, balbuciando.

A mulher dele, Maysa Silva Sthal, 43 anos, é técnica em enfermagem, e contou o que a família tem passado. "São momentos muito difíceis porque são problemas que vão demorar até um ano para uma recuperação parcial. E ele era muito ativo. Corria 60 km por semana, e tinha oficina de marcenaria como hobbie". Maysa relatou ainda que o casal sempre defendeu a vacinação, e que ela tomou a Coronavac, do Instituto Butantan. "Ele também queria tomar a Corona, mas, quando chegou a vez dele, era Astrazeneca. E ele não queria tomar a Astrazeneca. Mas, a gente é da linha de frente, e se não toma a vacina é impedido de trabalhar", declarou.

Direitos

O advogado Antônio Cremasco explica que "a responsabilidade civil no Brasil se dá pela ocorrência de imperícia, imprudência e negligência. Portanto, para gerar alguma indenização, aquele que se sentir prejudicado terá que provar umas dessas condições. E que essa situação se aplica ao caso das vacinas - caso alguém venha sofrer algum dano pela reação".

Nesse sentido, o o advogado Paulo Braga informou que, se confirmado que a vacina causou danos em uma ou outra pessoa, o Estado ou a União, e até mesmo os dois, dependendo do caso, respondem por isso - ou seja, ficam obrigados a indenizar o paciente.

Essa indenização "é tanto no sentido de arcar com o tratamento para restabelecer as condições de saúde do paciente, como deve arcar com danos morais, e, até mesmo com pensão vitalícia, caso o paciente/vítima fique impossibilitado de trabalhar", declarou Braga.

O Correio Popular entrou em contato com o instituto FioCruz e com a AstraZeneca, mas até o fechamento desta edição, não obteve retorno.

Olhos

O oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, é membro titular do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), e é quem está tratando dos olhos de Pacheco. O enfermeiro já tinha ceratocone - uma enfermidade que deforma a córnea -, e no caso dele só pode ser corrigida com lente de contato porque já está em um estágio que os óculos não oferecem boa correção da refração.

Quanto às consequências da covid-19, Queiroz Neto pontua que "todas as especialidades estão fazendo pesquisas contínuas para manter a saúde dos sobreviventes, e que por isso nunca os exames oftalmológicos periódicos foram tão importantes".

Para ele, a pandemia deve impulsionar o desenvolvimento de novos tratamentos na oftalmologia. Hoje, a principal recomendação do médico é prevenir, já que quando o assunto é visão, alguns danos são definitivos.

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