ESTUDO

Hospital da PUC-Campinas pesquisará sequelas da covid

Estudos, que envolverão novo medicamento, começarão no final de abril

Tássia Vinhas e Mariana Camba/ Correio Popular
22/03/2021 às 11:22.
Atualizado em 21/03/2022 às 23:15

O hospital escola, referência na Região Metropolitana de Campinas, atende 3.400 usuários do SUS por mês e realiza 83 mil exames em diferentes especialidades (Divulgação/ Hospital PUC-Campinas)

Quando o assunto é covid-19, as sequelas deixadas pela doença em pessoas que foram infectadas continuam representando um desafio para a Medicina. Atualmente, segundo o médico Danilo Villagelin, diretor do Centro de Pesquisa do Hospital PUC-Campinas, entre 15% e 20% dos pacientes continuam apresentando sintomas remanescentes como fadiga crônica e outros 10% reclamam da perda de olfato e paladar. Os motivos dessa persistência, que ainda fazem parte de um território desconhecido para a ciência, serão investigados a partir do final de abril por especialistas daquela unidade hospitalar.

O Centro de Pesquisa do Hospital PUC-Campinas é voltado para o desenvolvimento de novas drogas. O órgão foi o único da Região Metropolitana de Campinas (RMC) a participar dos testes da vacina contra a covid-19 fabricada pela multinacional Johnson & Johnson. "Nós contamos com cerca de 6 mil inscritos, dos quais 400 foram selecionados para participar da testagem como voluntários", explica Villagelin.

Além de ser referência em pesquisa, o Hospital PUC-Campinas tem o mesmo status no quesito atendimento. A instituição conta com 214 leitos SUS e 125 voltados aos convênios privados. Atualmente, 70% dos atendimentos são destinados aos usuários do SUS. São aproximadamente 3.400 pacientes por mês, que geram a realização de 83 mil exames em diferentes especialidades.

"O hospital tem isso no seu DNA. Sua missão é ajudar. Esse compromisso é muito importante para quem trabalha lá. Essa missão cristã de ajudar o próximo, algo intrínseco à rotina do hospital, é prezada por todos os nossos profissionais", afirma Villagelin. Na última quinta-feira, o médico visitou o presidente executivo do Grupo RAC, Ítalo Hamilton Barioni. No encontro, seguido desta entrevista, o médico falou sobre as conquistas e desafios do hospital, que conta com o apoio do arcebispo dom João Inácio.

Como o Hospital PUC-Campinas tem lidado com crescimento de demanda provocado pela covid-19? Como está o atendimento aos pacientes?

Mudou bastante a nossa rotina no hospital. Temos uma característica de ser um hospital mais cirúrgico, tanto em relação ao atendimento pelo SUS, quanto pelos convênios privados. Em virtude da pandemia, houve uma modificação. Hoje, temos um perfil mais de internações clinicas em virtude da covid. Ou seja, o número de cirurgias foi diminuindo ao longo da pandemia. Quando a pandemia tem uma melhora, as cirurgias retornam; quando ela piora, como está agora, as cirurgias diminuem bastante. Por causa da covid, foi aberta mais uma UTI e mais leitos clínicos para poder receber pacientes. É importante destacar que não somos um hospital referência em covid, mas temos demanda por causa da doença, principalmente por parte dos usuários dos convênios privados.

A pandemia afetou todos os setores de atividade, forçando o adiamento ou mesmo o cancelamento de projetos e investimentos. Como o hospital tem enfrentado este período de desafios?

O hospital passou no final do ano passado por um planejamento estratégico, no qual reviu os focos relativos aos próximos quatro anos, até 2025. Penso que a pandemia não teve impacto nisso. Talvez possa retardar algumas coisas, mas não vai adiar nossos projetos. Eu vejo dessa forma.

Qual a contribuição do hospital, em termos de desenvolvimento de pesquisas, no esforço para o combate à covid-19?

O Hospital PUC-Campinas conta com um Centro de Pesquisa voltado para o desenvolvimento de novas drogas, novos medicamentos. O que observamos é que, durante a pandemia, tivemos uma atuação bastante relevante. Participamos de oito estudos relacionados a medicamentos para tratar a covid em pacientes internados com estado moderado e grave. Também participamos dos estudos em torno da vacina desenvolvida pela Johnson & Johnson. Fomos o único hospital da RMC, junto com outro centro em Ribeirão Preto, a participar dos testes. As demais instituições estavam localizadas em capitais. Além disso, o nosso centro esteve entre os que mais atraíram voluntários para o estudo.

Referente à participação no estudo da vacina da Johnson, qual a importância desse tipo de colaboração para o hospital?

Eu acho que foi um impacto muito grande por várias razões. Primeiro, tem a questão da confiança. Participar junto com um grupo internacional do teste de uma vacina nova, no meio de uma pandemia, representa um reconhecimento à credibilidade da instituição, né? Sem esse atributo, essa colaboração não teria existido. É preciso destacar também a excelência da equipe da Infectologia, liderada pela médica Maria Patera, que tem mais de 20 anos de experiência clínica. Esse foi um fator importante, revelador da qualidade, da confiança e da seriedade com que trabalhamos. Quando o assunto começou a ser discutido, em novembro do ano passado, a vacina não era algo real, e mesmo assim tivemos mais de 6 mil inscritos, sendo que 400 foram selecionados como voluntários. Naquele momento, não era possível saber o que aconteceria em relação ao imunizante, se teria efeito adverso ou não, se seria eficaz ou não.

Ainda sobre o Centro de Pesquisa, o senhor poderia dar mais detalhes sobre os estudos nele desenvolvidos?

O Hospital PUC-Campinas faz pesquisas clínicas há 22 anos, mas a partir de 2017 é que inauguramos o Centro de Pesquisa com o objetivo de agregar mais estudos e torná-lo referência na área na nossa macrorregião. Eu acho que a presença de um Centro de Pesquisa agrega muito. Não ficamos limitados somente à atividade assistencial. Nós temos pelo menos 18 áreas fazendo pesquisa conosco. Atualmente, o destaque é para estudos relacionados à covid, mas também temos investigações em temas ligados à endocrinologia, cardiologia, gastroenterologia, genética, ortopedia, oftalmologia, otorrinolaringologia, entre outros.

Quando os ensaios relativos à vacina foram iniciados?

Começaram no segundo semestre do ano passado, pois havia a necessidade do cumprimento de todo um trâmite regulatório. A parte dos testes, durante os quais um grupo de voluntários recebeu a vacina e o outro placebo, teve início em novembro e foi encerrada em dezembro. Além disso, esta semana todos os voluntários estão sendo reconvocados. Quem tomou placebo agora está sendo vacinado. Penso que foi uma grande contribuição para essas pessoas, que aceitaram participar dos ensaios.

A propósito do tema vacina, o senhor tem alguma previsão sobre quando toda a população brasileira estará imunizada contra a covid?

Olha, vou dar um chute. Vamos imaginar assim: se toda população acima de 50 anos estiver vacinada até julho, seria uma vitória, porque são as pessoas que mais precisam de internação. Com elas imunizadas, as internações devem diminuir.

É possível dizer por quanto tempo a vacina protege contra a covid?

Ninguém sabe. Mas uma coisa positiva da vacina da Johnson é que ela tem eficácia contra a nova variante do coronavírus. Se vão surgir outras variantes mais ou menos agressivas, não sabemos, mas a vacina disponível cobre contra as variantes atuais.

Essa nova cepa do coronavírus, mais transmissível, somada à chegada do outono, com temperaturas mais baixas, pode piorar o atual cenário?

Sim, infelizmente é uma coisa que preocupa. A tendência é que as pessoas permaneçam em ambientes mais fechados, com as pessoas ficando mais próximas. De certa forma, isso contribui para a propagação do vírus.

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