A dentista Nataly Giacomeli, grávida de oito meses, tomou as duas doses da vacina contra a covid: “Os médicos deixaram claro que havia alguns riscos, mas eu preferi tomar” (Diogo Zacarias/Correio Popular)
A indefinição sobre a vacinação contra covid-19 de gestantes e puérperas tem deixado algumas grávidas de Campinas confusas. Na última quarta-feira, a Prefeitura de Campinas anunciou a suspensão do agendamento de vacinas, decisão que seguiu as orientações do governo de São Paulo. No mesmo dia, o governador João Doria (PSDB) anunciou que a campanha seria retomada por conta de remanejamentos de doses feito pela Secretaria de Estado da Saúde, após a entrega de um novo lote do imunizante CoronaVac, pelo Instituto Butantan.
O vaivém da vacinação de gestantes e puérperas se deu por conta da morte de uma grávida no Rio de Janeiro, que tomou a vacina da AstraZeneca. O caso está sendo investigado pelo Ministério da Saúde e levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a recomendar que especificamente essa vacina não fosse utilizada em grávidas, informação, inclusive, que está presente na bula do medicamento.
A Secretaria de Saúde de Campinas informou que o agendamento para a vacinação de gestantes e puérperas vai ser retomado, mas ainda "aguarda mais orientações oficiais do Estado". A Prefeitura informou que 134 gestantes foram vacinadas na cidade, mas não soube especificar quantas delas tomaram doses da AstraZeneca.
Para a analista financeira Paloma Moreira Miccoli, de 27 anos, a expectativa de ser imunizada deu lugar a um sentimento de insegurança. Grávida de nove meses, ela admite que as notícias recentes trouxeram confusão sobre a vacina. Preocupada, a moradora do Centro de Campinas diz que vai seguir as orientações do médico.
"Eu tenho acompanhado essa questão da vacina da AstraZeneca. Confesso que fiquei um pouco insegura com a morte da gestante do Rio de Janeiro. A gente fica confusa porque a cada dia surgem informações diferentes. A preocupação existe porque durante a gestação, que é um período delicado, você não está lidando só com a sua vida, há a vida de uma criança também. Não saber ao certo as consequências para a mãe e o bebê preocupa", aponta Paloma.
Com a anunciada retomada dos agendamentos, a analista financeira conta que deve tomar o imunizante CoronaVac. "Conforme o agendamento voltar, eu vou me sentar com meu obstetra para ouvir a recomendação dele se devo tomar agora ou esperar.
Cem por cento tranquila não vou ficar, mas diante da situação, com a quantidade de mortos pela covid-19, eu penso que a vacina é a melhor solução. Tendo orientação do meu médico, vou me sentir melhor", diz.
O médico obstetra e ginecologista Odair Albano acredita que as indefinições sobre a vacinação de grávidas decorrem da falta de um planejamento nacional. Segundo ele, por conta das novas cepas do vírus, a doença tem avançado sobre os brasileiros mais jovens, o que incluiu as mulheres grávidas. Com isso, o Governo Federal resolveu incluir as gestantes e puérperas no grupo prioritário no início deste ano.
"Se olharmos os dados dos departamentos regionais de saúde, vamos notar que há um predomínio de casos de covid-19 da cepa P.1, que é uma das variantes. É importante destacar isso porque estamos lidando com 'outra doença', que atinge de forma importante as gestantes, o que trouxe a preocupação da área de ginecologia e obstetrícia, conforme aumentaram os casos", explica o médico.
"O Governo Federal virou e disse que estava determinando a vacinação das gestantes e falou que dependeria da disponibilidade de vacinas. Só que o governo falou para fazer, mas não especificou Omo fazer, de forma clara. Ele deixou a cargo dos estados e municípios. As cidades receberam doses da CoronaVac e AstraZeneca e fizeram a imunização cada um do seu jeito", aponta.
Essa falta de normatização federal levou a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp) a se posicionarem e organizar uma campanha de orientação para que os médicos da área registrassem por escrito, em um termo de consentimento, a decisão das pacientes em tomar a vacina.
"Essa ação é importante porque a vacinação se dá em um contexto off label, ou seja, quando não há a autorização pela bula. Você está pedindo para a gestante tomar um medicamento que não tem certeza sobre os efeitos", explica Albano, que fez questão de destacar a importância das vacinas para o combate ao covid-19.
"Ocorrências como a do Rio de Janeiro em nada mudam a importância e os benefícios da vacina no combate ao coronavírus. É importante lembrar que os imunizantes diminuem consideravelmente o risco de se desenvolver casos graves da doença, que podem levar a quadros que afetam os pulmões, intestino, coração e cérebro. As pessoas devem continuar a tomar a vacina porque os riscos são infinitamente menores", exalta.
A dentista Nataly Giacomeli, 25, está grávida de oito meses. Ela já tomou duas doses da CoronaVac e garante que não sentiu nenhum efeito colateral. "Em nenhum momento eu me senti insegura, não. Eu assinei um termo de consentimento e tomei a vacina. Os médicos deixaram claro que havia alguns riscos, mas eu preferi tomar. A vacina é muito importante para salvar vidas e diminuir riscos de infecção", considera.