O projeto Convid - pesquisa de comportamento - aponta que apenas 15% dos brasileiros fizeram isolamento social rigoroso
O projeto Convid — pesquisa de comportamento, realizada pela Unicamp, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e UFMG — aponta que apenas 15% dos brasileiros fizeram isolamento social rigoroso. E entre esses, apenas 31% eram idosos, pertencentes ao grupo de risco. Já o número da população do País que ficou em casa a maior parte do tempo, saindo apenas para atividades essenciais, como compras em mercados e farmácias, foi de 60%. Além disso, 55% dos brasileiros perderam renda durante a pandemia e outros 40% relataram dificuldades moderadas ou intensas para se adaptarem à nova rotina. A pesquisa foi divulgada no último dia 22 de maio. O objetivo foi verificar como a pandemia do novo coronavírus e o isolamento social afetaram a vida da população brasileira. O estudo, que ouviu 44.062 pessoas de 24 de abril a 8 de maio, também procurou identificar a relação da quarentena com fatores como estado de ânimo, prática de exercícios físicos, entre outros. O auxiliar de dentista, João Welton Carneiro de Souza, de 33 anos, morador de Hortolândia, perdeu o emprego por conta da pandemia e ficou sem renda. "Antes da pandemia, minha patroa disse que não ia me mandar embora. Mas quando começou a fechar tudo eu fui o primeiro a ser dispensado porque estava terminando a minha experiência. A recepcionista também foi mandada embora e o salário das poucas pessoas que ficaram foi diminuído", conta. Maria das Dores Mendes dos Santos, de 40 anos, é terceirizada da limpeza em uma escola estadual. Ela faturava bastante vendendo bolos de pote e por encomenda para as colegas e professores. "Minha renda caiu uns 60%. Eu vendia muito na escola, só agora que eu percebi. Agora vendo um pouquinho aqui, outro ali, mas tudo fiado. Por causa da epidemia ninguém tem dinheiro, todo mundo ficou com medo de gastar", reclama. A mestre de cerimônias Luana Campos, de 33 anos, viu a renda despencar. "Minha renda caiu 90%. Só não foi cem por cento em virtude do auxílio emergencial e de alguns recebíveis de casamentos que ainda celebrarei e já tinha assinado contrato. Não tenho perspectiva de retorno porque minha renda principal provém da área de eventos como mestre de cerimônias e celebrante social de casamento, e esses eventos demandam pessoas", argumenta. A amostra foi calibrada por meio dos dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD, 2019), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para obter a mesma distribuição por unidade da federação, sexo, faixa etária, raça/cor e grau de escolaridade da população. O trabalho foi coordenado pela professora Deborah Carvalho Malta, da Escola de Enfermagem da UFMG, Celia Landmann, da Fiocruz, e Marilisa Barros, da Unicamp. “A chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil resultou em uma série de iniciativas e recomendações para a proteção das pessoas que incluiu o isolamento social. As pesquisas de comportamento são fundamentais para entendermos o contexto em que os brasileiros estão vivendo e promovermos ações para ajudá-los a desenvolver bons hábitos neste momento”, justifica a professora Deborah Malta. O número de pessoas que tiveram ao menos um sintoma de gripe após o início da pandemia no Brasil foi de 28%, variando de 16%, entre idosos, a 36%, entre os mais jovens (18-29 anos). Entre os que tiveram pelo menos um sintoma de gripe, apenas 4% realizaram o teste para saber se estavam infectadas pelo novo coronavírus. Dessas, 51% tiveram o resultado negativo, 33% tiveram resultado positivo e 16% não receberam o resultado.