SAÚDE

Monte Mor pagará bônus a médico por 'produtividade'

Gratificação é considerada absurda pelo Cremesp; usuários do sistema público estão receosos

Inaê Miranda
18/05/2013 às 07:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 15:32
Unidade de Saúde da Família Jorge Calil, no Jardim Pavioti, em Monte Mor (Elcio Alves/AAN)

Unidade de Saúde da Família Jorge Calil, no Jardim Pavioti, em Monte Mor (Elcio Alves/AAN)

Monte Mor vai apostar no pagamento de gratificações para os médicos que atenderem um maior número de pacientes nas unidades básicas de saúde (UBS) para atrair mais profissionais. O “bônus” para aqueles que realizarem mais de seis consultas em uma hora chega a 50% do salário-base. A medida, defende a Administração, não deve prejudicar a qualidade do atendimento, mas o tema gera polêmica. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) classificou a iniciativa como absurda. Já os pacientes acreditam que o atendimento deve piorar.

O projeto de lei, de autoria do prefeito Thiago Giatti Assis (PMDB), prevê gratificação de 20% sobre o salário-base do médico que efetuar quatro consultas por hora trabalhada, 30% para aqueles que fizerem cinco consultas por hora e 50% de gratificação para os profissionais que realizarem seis ou mais atendimentos em uma hora, o correspondente a um atendimento a cada 10 minutos no máximo. O médico que trabalha quatro horas por dia e desejar receber a gratificação máxima, por exemplo, terá atendido ao final do expediente pelo menos 24 pessoas.

A proposta foi aprovada por unanimidade na Câmara em abril e aguarda a realização de um concurso público para entrar em vigor, o que está previsto para acontecer em 60 dias. De acordo com o prefeito, a lei é voltada para o atendimento básico, que tem um déficit de 20 médicos. Ele explica que existem alguns critérios para receber a gratificação, como o cumprimento integral da jornada para a qual foi contratado (quatro horas, oito horas ou plantão); a mesma regularidade da quantidade de consultas em todo o período e atestado mensal de regularidade.

Conforme a Administração, a medida busca fazer com que o paciente tenha sempre médicos para atendê-lo. “Estamos encontrando problemas para atrair médicos. Então, nos empenhamos em valorizar o profissional não só na parte salarial, mas resgatando o atendimento humanizado para a população, e melhorando a infraestrutura. Investimos no hospital e conseguimos resolver o problema da falta de médicos, compramos prédio novo, onde vai funcionar o novo centro de especialidades”, afirmou Assis.

O prefeito garante que a lei ou a rapidez no atendimento não deverá interferir na qualidade do serviço. “Ela está condicionada a alguns requisitos, vai passar pelo crivo da Secretaria de Saúde e vai depender da capacidade técnica do profissional. Vai depender do médico. Tem paciente que vai à unidade para pegar uma receita e isso não toma o mesmo tempo de uma primeira consulta, por exemplo”, afirmou. “A intenção não é pagar por produtividade ilimitada. Trata-se de uma gratificação por um atendimento limitado a um determinado número de pacientes.” Após entrar em vigor, se não tiver os resultados esperados, a medida poderá ser “repensada”, segundo Assis. “Se observarmos que não está dando certo poderemos repensar novas maneiras de melhorar o atendimento.”

[INTERTITULO]Pacientes temem

[/INTERTITULO]Os usuários do sistema de saúde reclamam que o atendimento médico na cidade já é precário e temem que ele piore depois da medida. Em uma das unidades, no Jardim Paulista, a marcação de consulta com o clínico-geral só é feita duas vezes por mês, segundo moradores. “A fila nesses dias é enorme. E se a pessoa não consegue marcar, tem que esperar mais 15 dias para voltar. Com essa lei, a tendência é piorar tudo”, afirmou Maria de Sousa.

No bairro Jardim Paviotti a preocupação é a mesma. “O médico vai passar a atender mais por interesse”, afirmou o pintor Jânio Paz. “Já tem muito médico hoje que já nem olha na cara do paciente”, disse o aposentado Manuel Vespasiano. “Quem vai ser beneficiado com essa medida vai ser apenas o médico”, completou o gráfico Joel Medeiros de Lima.

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