reforço

Mulheres fazem história na Câmara

Pela primeira vez desde 1797, haverá quatro representantes femininas no Legislativo de Campinas

Da Agência Anhanguera
17/11/2020 às 07:40.
Atualizado em 27/03/2022 às 00:46
Mariana Conti (PSOL), vereadora mais votada nessas eleições (Divulgação)

Mariana Conti (PSOL), vereadora mais votada nessas eleições (Divulgação)

As eleições municipais de 2020 em Campinas vão entrar para a história. Pela primeira vez desde 1797, quando foi realizada a primeira eleição de representantes no Legislativo, a Câmara de Campinas terá quatro mulheres no cargo de vereadora. Mariana Conti (PSOL) — a mais votada da cidade, reeleita com 10.886 votos — e as novatas Débora Palermo (PSC), Guida Calixto (PT), Paolla Miguel (PT).  Apesar de existir já há 223 anos, a Câmara Municipal se notabiliza por ser um local marcadamente masculino. Durante todos esses anos, apenas 15 mulheres ocuparam o cargo de vereadora em Campinas. As legislaturas que mais haviam avançado nesse aspecto foram as de 1989 a 1992 e a de 2005 a 2008 — quando três vereadoras foram eleitas. Na atual legislatura, há apenas uma - justamente Mariana Conti, que se disse feliz pelo fato de ter mais mulheres na Casa. "É muito importante que as mulheres tenham espaço, nos espaços de decisão", disse ela. "Ainda que o número seja pequeno, é importante a gente ir quebrando tabus, superando marcos", acrescentou a vereadora. Em 2016, com 6.956, Mariana já havia quebrado o recorde de voto feminino na cidade, que até então pertencia à Delegada Terezinha — parlamentar em duas legislaturas (2011-2004 e 2005-2008). AS VEREADORAS Mariana Conti Vereadora mais votada, com 10.866 votos, Mariana Conti (PSOL) se diz feliz e analisa sua reeleição, de forma expressiva, como um reconhecimento pelo bom trabalho. Comemora ainda o recorde e o fato de que vai ser a primeira mulher a abrir a sessão de posse, em 1º de janeiro próximo. Sobre a eleição de outras três mulheres, entende como um salto de qualidade para o Legislativo campineiro, que, historicamente registra baixa participação feminina. Afirma que o ingresso de perfis, anteriormente excluídos do universo político, como mulheres e negros, é tendência. "Precisamos romper esses tabus. Espero que esse cenário, no futuro, seja corriqueiro e não extraordinário", encerrou. Mariana nasceu em 23 de julho de 1985 (35 anos), em Campinas. É solteira e mora no Jardim Independência, no distrito de Barão Geraldo. É socióloga e mestre em sociologia pela Unicamp. Iniciou militância aos 17 anos no movimento estudantil da universidade e foi coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Entre outros movimentos, participou das lutas em defesa da educação pública, pelo passe livre e em defesa dos direitos das mulheres. A vereadora compõe o Diretório Nacional do PSOL. Seu primeiro mandato teve início em 2017 e se encerra no fim deste ano. Em 2016, recebeu 6.956 votos, sendo a única mulher eleita. Na página que expõe seus dados no site da Câmara de Campinas, usa uma citação de Bertold Brecht, dramaturgo, poeta e encenador alemão, que faleceu em 1956, aos 58 anos. O texto diz: "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas, ninguém diz violentas as margens que o comprimem". Paolla Miguel Nascida em Campinas e moradora do bairro Vila União, Paolla Miguel foi a terceira mulher mais votada na cidade, com 2.728 votos, e se tornou a mais nova vereadora do Partido dos Trabalhadores (PT) a fazer parte da Câmara. Com a29 anos, é formada em engenharia de computação, trabalha numa multinacional como desenvolvedora full stack e faz parte da Secretaria da Juventude do PT, em Campinas, se dedicando principalmente à causa feminista e LGBTQIAP+. Em 2018, chegou a disputar às eleições para o cargo de deputada federal e obteve 10,5 mil votos. Seu interesse pela política vem desde a pré-adolescência, por causa da rotina de vida de sua mãe, uma professora sindicalista que participa de movimentos de militância e que precisou criá-la sozinha. "Ela me levava às atividades. Foi aí que comecei a minha formação política", afirmou. "Em 2013, nas marchas de junho, quando o movimento passe livre começou, decidi ir para a rua e comecei a me aproximar do PT." Durante a vida já passou por perrengues, entre eles o racismo. Ela conta que não esquece até hoje do dia em que foi chamada de faxineira na faculdade particular que estudou. "Estava numa mesa com outras pessoas e começamos a falar sobre o que cada um tinha cara de ser. Um menino, que era asiático, falaram que tinha cara de médico. Disseram que uma outra menina tinha cara de engenheira civil. Foi quando uma menina virou para mim e disse que eu tinha cara de faxineira por causa da minha cor de pele", relembrou a vereadora, que tem entre as propostas dialogar com a juventude da periferia para enfrentar o extermínio do povo pobre, negro e trabalhador. Margarida Calixto Margarida da Silva Calixto (PT), popularmente chamada de Guida Calixto, foi a segunda mulher mais votada em Campinas, com 3.645 votos. Analisa que o resultado das eleições na cidade, marca uma importante posição de repúdio ao atual contexto político nacional, com um comando machista e racista à frente do País. "Ainda é uma resposta inicial, poderíamos eleger mais mulheres. Não qualquer mulher. Mas, mulheres que defendam a pauta das mulheres", comentou. Disse ainda que, nos últimos quatro anos, houve um desmonte do serviço público em Campinas. E, as mulheres - direta ou indiretamente - foram as mais prejudicadas. A história de Guida, que tem 50 anos, e Campinas, começou quando ela tinha quatro meses de vida e veio de Santos - sua cidade natal - para cá. Os pais eram militantes de base do Partido Comunista e fugiram da repressão do governo militar. Aqui, se casou e teve uma filha. No momento, com 29 anos. No município, atua há 23 anos como servidora pública, na função de monitora de educação infantil. Em 2010, se formou em Direito na Faculdade Anhanguera. Desde então, exerce a profissão na área trabalhista. É filiada ao PT desde 2003. Contudo, desde 2002, milita como oposição sindical. Em 2016, foi eleita com aproximadamente 1,8 mil votos para o Conselho de Previdência do Instituto de Previdência Social do Município de Campinas (Camprev). Na instituição, participou da criação do movimento "O Camprev é Nosso", que diverge da atuação da atual gestão. Débora Palermo Avançar nas políticas públicas para infância e juventude. Foi com esse lema que a professora de educação física Débora Palermo, de 55 anos, conseguiu se eleger em Campinas como a quarta vereadora mais votada da cidade, com 1.937 votos. Professora efetiva da rede estadual e conselheira tutelar há mais de uma década, ela entra para a Câmara sem uso de recursos provenientes do fundo partidário. "Eu não tive equipe. Fiz a minha campanha com amigos, de forma voluntária. Competi com outras campanhas milionárias e essa foi a maior dificuldade", disse. Para a nova vereadora, o resultado das eleições, com mais mulheres ocupando espaços de poder na Casa, traz mais representatividade para a cidade. "Não é uma questão de feminismo ou machismo. O homem pensa e age como homem, mas quem sabe falar do lugar da mulher somos nós, que experimentamos todos os dias o que é ser mulher numa sociedade que ainda é culturalmente machista (...) Sinto que estamos avançando e espero que as mulheres ocupem todos os espaços da sociedade para que todos tenham representação". Débora é a mais velha entre as quatro eleitas. Para ela, a diversidade de pensamentos por causa da idade é saudável. "A gente tem jovens (vereadoras), mas tem eu que sou a mais velha. Acho muito valioso isso". Candidata pelo PSC, tem como principais propostas o avanço das políticas públicas para a população — sobretudo para crianças e adolescentes — e o combate a corrupção por meio da fiscalização do Poder Executivo. "Que terminando o mandato a gente consiga deixar uma cidade mais justa e digna para todos, porque isso é o papel do político". TODAS A VEREADORAS Vera Pinto Teles (1948 - 1951) Silvia Simões Magro (1948-1951) Enéa Caldato Raphaelli (1969-1972) Clara de Oliveira (1973-1976) Arita Pettená (1989-1992) Célia Leão (1989-1992) Vanda Russo (1989-1992) Ester Viana (1997-2000) Maria José da Silva Cunha (2001-2004) Terezinha de Carvalho (2001-2004 / 2005-2008) Izabel Rocha (Agosto de 2004) Leonice da Paz (2005-2008) Marcela Moreira (2005-2008) Neusa do São João ( 2013 - 2016) Mariana Conti (2017-2020) Fontes: Câmara Municipal de Campinas

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