Moradores de Campinas reconhecem a necessidade de mais espaços verdes, mas entendem que há o risco de que os locais sejam usados para descartar lixo ou mesmo como esconderijo para assaltantes
Campinas criou nove microflorestas desde o início de abril, com total de 12.494 mudas plantadas; uma delas fica no balão em frente ao Kartódromo do Taquaral (Rodrigo Zanotto)
Prestes a completar três meses, a instalação das microflorestas em Campinas divide opiniões das pessoas ouvidas pela reportagem do Correio Popular. Embora exista uma satisfação com mais ambientes verdes na cidade, há o temor de que os locais se tornem pontos de acúmulo de lixo e esconderijo para assaltantes. De acordo com a Prefeitura, são muitos os benefícios pensados com a implantação das microflorestas, como aumentar o sombreamento, diminuir as temperaturas e garantir mais conforto em dias quentes. Além disso, as microflorestas têm potencial de atrair e dar refúgio a animais, promovendo a biodiversidade, e de ajudar a reduzir a poluição do ar e o ruído. Por fim, as árvores podem atuar como captadoras de carbono, absorvendo o CO2 da atmosfera e combatendo o aquecimento global.
O poder público criou nove microflorestas desde o início de abril, com total de 12.494 mudas plantadas. Está em andamento o plantio em mais uma área, em um canteiro em frente ao Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, na Avenida Prefeito Faria Lima, no Parque Itália. O plano é chegar a 200 microflorestas, de diferentes tamanho, com 500 mil mudas no total.
Algumas das espécies de árvores previstas nas áreas de microfloresta são alecrimde-campinas, peroba-rosa, jequitibá, pau-brasil, jatobá, guarantã, pau-óleo, ipês rosa, roxo, branco e amarelo, paineiras, quaresmeira, aldrago, cássia, embaúba, angico, pitanga, araçá, oiti, ingá, goiabeira, cereja-do-rio-grande e grumixama. As mudas são do Viveiro Municipal Otávio Tisseli Filho, onde são cultivadas mais de 200 mil unidades de árvores.
Um dos primeiros pontos a receber uma microfloresta foi o Balão do Laranja, Jardim Novo Campos Elíseos. Foram cerca de 3.240 mudas plantadas no local. Anderson Silva, 40, trabalha há três anos em uma loja de ferramentas em frente ao local. Para ele, o plantio das mudas foi válido e deu um novo aspecto para o conhecido balão. Ele revelou, no entanto, preocupação com o crescimento do número de pessoas em situação de rua na cidade. Além disso, ele considerou que esses locais podem servir como refúgio para pessoas que queiram usar drogas ou cometer assaltos. “No futuro, com as árvores maiores e mais densas, creio que seja necessário mais policiamento.”
Gabriela Colombo, 34, que trabalha no setor de logística na mesma empresa de Anderson, chamou a atenção para a manutenção regular do local. Para ela, a preocupação é com a próxima temporada de chuvas. “Se o mato começar a crescer muito podemos ter problemas com pragas e acúmulo de lixo”, projetou. Gabriela analisou que a iniciativa é boa, mas que a Prefeitura deve ter um cuidado maior com a manutenção desses locais.
Próximo ao local de trabalho de Gabriela, o funcionário de um comércio, que não quis ser identificado, concordou. “O pessoal da Prefeitura já veio algumas vezes, mas há um tempo que não aparece”, relatou ao apontar para os sacos plásticos e outros objetos que poluíam o local.
Em outro ponto da cidade, a reportagem visitou a microfloresta do Taquaral. Ela fica no balão da Praça Fernando Fernandes Olmos, ao lado do portão 6 da Lagoa, com 2.100 mudas de árvores em uma área de 4.820 metros quadrados. Um homem que trabalha em uma instituição ligada à Prefeitura, por isso optou por manter o anonimato, disse que já viu equipes da Administração Municipal realizando as manutenções necessárias, mas pontuou que será necessário melhorar a qualidade da iluminação quando as árvores estiverem maiores, devido aos problemas de furto na região da Lagoa do Taquaral, principalmente, segundo ele, de celulares. “Um local como esse pode servir de refúgio ou de ponto de ataque para alguém mal-intencionado.”
“Do ponto de vista do meio ambiente é muito interessante, porque precisamos de mais árvores”, relatou Décio Cangerana, 47, que há vinte anos trabalha em frente ao Kartódromo do Taquaral. Ele também contou que vê com frequência as equipes da Prefeitura limpando o terreno. A preocupação dele é com relação à segurança no período da noite. “Quando as árvores crescerem, creio que seria muito importante a Prefeitura investir em mais iluminação.”
PREFEITURA
O poder público informou que a manutenção das microflorestas inclui irrigação, roçagem e combate a pragas, coisas que são feitas regularmente. A Prefeitura também afirmou que nenhuma microfloresta sofreu vandalismo até o momento. “É importante que a consciência de preservação permaneça e as florestas urbanas continuem a crescer e a proporcionar benefícios e mais qualidade de vida a todas as pessoas”, destacou. A administração municipal reforçou que o objetivo das microflorestas é reduzir a temperatura em ilhas de calor, filtrar o ar e servir de refúgio à pequena fauna urbana. Com relação à melhoria na iluminação dos locais, Prefeitura informou que vai realizar o serviço quando houver necessidade.
OPINIÃO A engenheira agronômica, Regina Longo, pontuou que as florestas urbanas têm que fazer parte da vida cotidiana de uma forma orgânica. “As pessoas precisam ter segurança, iluminação e condições sanitárias para que exista de fato uma sensação de pertencimento a esse local.” A engenheira, que também é pesquisadora da PUC-Campinas, contou que tal modelo já é amplamente disseminado no mundo, mas que o poder público tem a responsabilidade de zelar pelos locais para que eles de fato exerçam o propósito amenizar as condições climáticas. “As microflorestas são uma forma rápida de dar uma resposta climática para o controle das temperaturas.”
Regina explicou que as florestas urbanas exercem vários serviços ecossistêmicos. Entre eles, a pesquisadora destacou o controle da temperatura e a melhor absorção da água. “Quanto mais árvores tivermos menor será a variação climática daquele local”, esclareceu. Ela participa de um estudo que monitora a diferença de temperatura entre a malha urbana e a Mata de Santa Genebra. “Neste ano já observamos uma diferença de sete a oito graus a menos na mata, é uma diferença bastante significativa.”
Com relação à alta concentração de árvores em um mesmo espaço, Regina Longo explicou que para que a microfloresta consiga regular a temperatura ela precisa ser densa.
VALINHOS
O projeto de implantação das microflorestas urbanas, que está em execução em Campinas, também foi aprovado pelos demais municípios durante reunião do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas (CD-RMC). O projeto foi bem recebido pelos prefeitos da região, que prometeram dar andamento ao programa em suas cidades. Dentro desse cenário a cidade de Valinhos iniciou o projeto de microflorestas. A primeira está localizada na alça de acesso ao Viaduto Laudo Natel, na Vila Santana. Foram 420 mudas de diversas espécies de plantas, dando início ao projeto Microfloresta Urbana da Prefeitura de Valinhos. A Prefeitura já prospecta mais áreas para novas microflorestas dentro da cidade. Além disso, o projeto também vai contribuir para o Programa Reconecta da RMC, que visa a conexão da fauna através dos corredores ecológicos de fragmentos de vegetação remanescente da Mata Atlântica.
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