CONSEQUÊNCIA DOS ACIDENTES

Prefeitura de Campinas quer acabar com ‘rolezinho’ de moto na cidade

Dário se reuniu com forças de segurança e anunciou medidas para coibir ação

Luis Eduardo de Sousa/ [email protected]
28/07/2023 às 08:54.
Atualizado em 28/07/2023 às 08:54
Emdec revelou que 29% dos óbitos acontecem no domingo e 69% no período entre 18h e 5h59; manobras, como ‘dar grau’, são arriscadas e devem ser evitadas pelos motociclistas (Alessandro Torres)

Emdec revelou que 29% dos óbitos acontecem no domingo e 69% no período entre 18h e 5h59; manobras, como ‘dar grau’, são arriscadas e devem ser evitadas pelos motociclistas (Alessandro Torres)

A Prefeitura de Campinas realizou na quinta-feira (27) uma reunião no Palácio dos Jequitibás com as forças públicas de segurança que atuam na cidade para colocar fim aos “rolezinhos” de moto. A reunião contou com a presença de representantes das polícias Civil e Militar, Guarda Municipal (GM) e Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), responsável pelo trânsito. Fontes dos bastidores relataram que o evento repentino aconteceu por iniciativa do prefeito Dário Saadi (Republicanos), que teria expressado a vontade de coibir qualquer motociata irregular na cidade.

No último sábado, um “rolê” com mais de 200 motocicletas pelas ruas da metrópole terminou em tragédia na Rodovia Santos Dumont (SP-075), na altura do Jardim Itatinga. Três pessoas morreram e pelo menos 30 ficaram feridas após um engavetamento entre as motos.

O ocorrido também foi alvo de debate na quinta-feira (27)  na Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), em razão do Dia do Motociclista, celebrado na quinta-feira (27) . No evento, o médico-cirurgião Gustavo Fraga, do setor de traumatologia do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, tratou como inaceitável a adversidade e alertou que a situação sobrecarregou as emergências de todos os hospitais públicos da cidade. O médico considerou que o número de cerca de 30 feridos do acidente “trata-se de subnotificação”, já que mais vítimas com ferimentos, segundo ele, teriam procurado unidades de saúde nos dias subsequentes.

Presente no evento da SMCC, o presidente da Emdec, Vinicius Riverete, afirmou que tem trabalhado para reduzir os acidentes envolvendo veículos de duas rodas. Na quinta-feira (27), a empresa púbica divulgou mais dados sobre acidentes desse modal na cidade.

De acordo com o que foi divulgado, entre 2013 e 2022 houve uma redução de 21% na taxa de óbitos dos condutores de motos. No primeiro ano, 2013, a média foi de 5,99 falecimentos a cada 10 mil motocicletas. No ano passado, foram 4,73 mortes. No mesmo período, a frota de motos cresceu 27%, saindo de 118 mil no primeiro ano para quase 150 mil em 2022. Conforme dado que já havia sido divulgado no começo da semana pela Emdec, o volume corresponde a 16% da frota total de veículos licenciados da cidade, que, segundo Riverete, ultrapassa 900 mil.

O estudo da Emdec aponta ainda que em 2022 foram 71 mortes de motociclistas, duas a mais que em 2021, quando foram registradas 69. Dentre os 62 acidentes fatais de mociclistas nas vias urbanas e rodovias de Campinas analisados, 45% foram causados por excesso de velocidade e outros 40% por abuso de álcool, sendo as duas maiores causas. Em relação aos dias da semana e período com mais registros de mortes, se destacam os domingos, com 29% dos óbitos em 2022, e o horário entre 18h e 5h59, que concentra 68% das vítimas fatais.

O chefe da Emdec considerou que o “rolezinho” de sábado foi uma situação atípica e que, no geral, o número de óbitos por motocicletas é estável, passível de se reduzir ainda mais com ações frequentes.

“Eu acho que sempre é possível (reduzir acidentes). Toda morte no trânsito é evitável, com raras exceções. Por isso, é importante que as campanhas de conscientização sobre os riscos sejam frequentes e, atualmente, há uma série de ações que estamos fazendo nesse sentido, para reduzir essas mortes”, destacou Riverete. 

“Os motociclistas fazem um trabalho que é muito difícil, sempre com pressão por parte dos clientes. As pessoas, quando veem um motociclista cometendo uma infração de trânsito, ficam indignadas, mas, na contramão disso, se sua comida atrasa um minuto, já fica irada. Por isso é importante combater esse ‘estresse’ generalizado que existe da sociedade para evitar também que o motociclista tenha que se colocar em uma situação de risco”, complementou.

Gustavo Fraga, do HC, enfatizou que o acidente causado pelo “rolezinho” de moto deve servir de lição para coibir futuros eventos do tipo.

“Foi uma coisa que eu, em toda a minha atuação profissional, não me recordo de ver em Campinas. Temos a possibilidade de atender a queda de um avião em Viracopos, por exemplo, ou acidentes de ônibus, mas motocicletas, que transportam duas pessoas no máximo, é inédito.” 

Enquanto ocorria a reunião na SMCC, o prefeito se reunia com as forças de segurança para tentar dar um fim às motociatas clandestinas.

De acordo com a Administração, uma série de medidas serão adotadas para alcançar o objetivo. Entre elas, haverá o monitoramento e troca de informações em tempo real entre os setores de inteligência das forças policiais para identificar encontros de motocicletas e, assim, coibi-los antes que eles aconteçam. Também haverá uma intensificação das operações conjuntas e periódicas entre Guarda Municipal e Polícia Militar, bem como um reforço nas operações “Placa Escura” da Emdec – que consistem em capturar motociclistas que cobrem a placa do veículo ao passar pelo radar de velocidade.

“Faremos ações importantes para que esses eventos não aconteçam mais. Além de impactar na taxa de mortes, eles contribuem para sobrecarregar os setores de urgência e emergência dos hospitais”, declarou o prefeito Dário Saadi.

Só no dia do acidente, três vítimas foram encaminhadas para o Hospital PUC-Campinas, três para o HC, oito para o Hospital Mário Gatti e 16 para o Hospital Ouro Verde. Duas vítimas seguem internadas. Uma delas não teve o estado de saúde revelado e está hospitalizada no Mário Gatti, enquanto a outra, em estado grave, está no HC.

Na reunião, também ficou definido que a GM e a Emdec vão ficar atentas às motos que apresentem indícios de adulteração. Quando constatados, esses casos serão conduzidos à Polícia Civil para providências, já que a alteração recente no artigo 311 do Código Penal prevê que condutores com veículos que tenham placas e números de chassi e de motor adulterados são passíveis de pena de prisão, sem direito à fiança.

“O alinhamento dessas ações vai resultar em uma fiscalização mais eficiente para tornar o trânsito mais seguro e impedir que as pessoas envolvidas nesse “rolê” acabem incomodando o restante da população”, salientou o diretor do Departamento de Polícia Judiciária-2 (Deinter-2), Fernando Bardi.

Já a Guarda Municipal disse que “vai reforçar as ações conjuntas com a Polícia Militar e Emdec, além de reforçar o trabalho do Setor de Inteligência, trocando informações com a Polícia Civil”.

Por fim, o tenente-coronel Fernando Fagionato, do Comando de Polícia do Interior 2 (CPI-2), colocou a Polícia Militar à disposição da integração para “a segurança de todos e do trânsito”.

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