‘SUSTENTABELHA’

Preservação das abelhas é tema de espetáculo teatral

Dupla de atores de Hortolândia criou uma peça para conscientizar a população sobre a importância do inseto para o processo de polinização

Bruno Luporini/[email protected]
05/07/2025 às 09:55.
Atualizado em 05/07/2025 às 09:59
A peça traz a história da abelha Runí, que vive sozinha em uma colmeia à espera do retorno de suas companheiras; um dia, Zuki aparece e explica que nenhuma abelha retorna porque o planeta está adoecendo, as flores sumindo e, consequentemente, as abelhas desaparecendo (Divulgação)

A peça traz a história da abelha Runí, que vive sozinha em uma colmeia à espera do retorno de suas companheiras; um dia, Zuki aparece e explica que nenhuma abelha retorna porque o planeta está adoecendo, as flores sumindo e, consequentemente, as abelhas desaparecendo (Divulgação)

A necessidade de conscientização da população quanto à preservação das abelhas, fundamentais para o processo de polinização, levou uma dupla de atores da cidade de Hortolândia a criar o espetáculo teatral “SustentABELHA”. O objetivo é despertar essa preocupação ambiental junto à população. De acordo com a Embrapa, os insetos são responsáveis pela polinização de 90% das espécies de flores silvestres e 75% das plantações de alimentos. Devido a essa importância, os atores Thairine Barbosa e Guilherme Campos tiveram a ideia e a colocaram em prática em maio deste ano.

Durante o processo de pesquisa para a consolidação do enredo da peça, a dupla se aprofundou no assunto até encontrar a seguinte afirmação, atribuída, sem comprovação, a Albert Einstein: “Se as abelhas desaparecessem da face da terra, a humanidade teria apenas mais quatro anos de existência”. Outra referência para a construção da mensagem é a filosofia africana Ubuntu, que consiste em construir uma sociedade por meio do trabalho colaborativo entre as pessoas, algo que utiliza o conceito de “eu sou porque nós somos”, reforçando a ideia de é necessário um trabalho coletivo em prol da sustentabilidade. 

O enredo da peça teatral traz a triste realidade da abelha Runí. Ela vive sozinha em uma colmeia à espera do retorno de suas companheiras, até que um dia outra abelha aparece. Zuki, ao entender a realidade de Runí, explica que nenhuma outra abelha retorna porque o planeta está adoecendo. Com isso as flores estão sumindo e, consequentemente, as abelhas desaparecendo. As duas começam a compartilhar as tarefas cotidianas. Elas enfrentam a realidade da destruição ambiental e de quão urgente é a necessidade de mudanças imediatas. O enredo se desenvolve a partir dessa premissa. “Existem momentos engraçados e mais reflexivos, permeados por músicas, que prendem a atenção dos espectadores.”

A história é contada através da visão das abelhas e de como elas se preocupam com a própria existência, completamente conectada à saúde do ambiente onde vivem. Para Thairine, essa é uma forma lúdica que coloca para os espectadores um olhar empático sobre o impacto que um ambiente degradado exerce nos pequenos animais polinizadores. “E as crianças se envolvem com essa narrativa e, dessa forma, conseguimos transmitir para elas essa mensagem de cuidado e importância da preservação ambiental.”

Na apresentação, as personagens levantam questões essenciais para a preservação do meio ambiente. Entre os principais tópicos abordados estão a problematização da utilização de agrotóxicos nas plantações e os prejuízos relacionados ao desperdício de água. Ainda há espaço para desenvolver a temática das relações dos humanos com os animais e o ecossistema. De acordo com Thairine, mesmo o enredo sendo voltado para o público infantil, a peça também prende a atenção dos adultos. A atriz atribui o dinamismo da peça aos temas que conseguem despertar o interesse de todas as idades. “é um espetáculo que trabalha a comédia e o drama de uma maneira que as emoções aparecem de forma natural no público.”

O cenário também se destaca dentro da proposta de sustentabilidade. “Utilizamos materiais que podem ser reciclados, como o papelão do cenário e dos móveis e uma estrutura de metal.” Além disso, a estrutura foi projetada para ser transportada facilmente. O objetivo é conseguir levar a apresentação aos mais diversos lugares. “Não queremos depender de um local fechado para apresentar a peça. O teatro deve chegar a todos os públicos, independentemente da estrutura local.”

Ao final do espetáculo o público recebe um papel semente de margarida. O papel é fruto de reciclagem, e a tinta utilizada na impressão é totalmente ecológica. “Dessa forma, não há nenhuma influência no solo no momento de plantar a flor”, explicou Thairine. Para a atriz, as margaridas representam a beleza do que é natural, além de ser uma flor visitada pelas abelhas em busca do néctar e do pólen. A atriz explicou que a entrega das sementes não tem apenas um caráter simbólico. É uma forma de conectar imediatamente quem viu a peça com a possibilidade imediata de começar a colaborar com a preservação do ambiente. “Percebo que hoje nos falta muito esse contato direto com ações que podem fazer a diferença.”

Outra atividade é desenvolvida com as crianças, após a peça. Trata-se de uma oficina na qual os participantes produzem abelhinhas de brinquedo utilizando material reciclado. É um momento lúdico no qual os pequenos unem o que assistiram no palco com a confecção manual dos principais polinizadores. “São momentos muito divertidos e que reforçam o conhecimento que queremos passar para as crianças, que são o futuro da nossa sociedade.”

O projeto foi contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), selecionado em 2024, e começou a ser executado em 2025. Após apresentações que já ocorreram em Hortolândia, Thairine contou que a peça está inscrita em alguns festivais de teatro. A próxima cidade a receber a apresentação será Santa Bárbara D’Oeste. “E nossa ideia é conseguir percorrer muitas outras cidades para levar essa importante mensagem de sustentabilidade”, revelou. Ela ainda destacou que a mistura de humor e emoção dentro do enredo tem como objetivo de aproximar o público da principal mensagem. “Dentro do que é engraçado, divertido e lúdico, todos nós temos o papel de semente”, declarou, em referência às sementes distribuídas durante a peça e ao próprio papel das abelhas na polinização da flora.

ABELHAS

De acordo com informações da organização não governamental Bee Or Not To Be do Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura do Rio Grande do Norte (Cetapis), cerca de 85% das plantas com flores presentes nas matas e florestas dependem dos agentes polinizadores para reprodução. As abelhas têm destaque nesse processo, uma vez que transportam o pólen entre as plantas, o que garante a variação genética, importante para o desenvolvimento das espécies. Além disso, cerca de 75% de todas as culturas agrícolas dependem dos polinizadores. A estimativa é que um terço de todos os alimentos que chegam à mesa têm alguma dependência desses agentes para serem gerados.

Preocupados com a conservação das abelhas, a ong A.B.E.L.H.A., a Embrapa Meio Ambiente e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) lançaram no final de 2024 a cartilha digital “Meliponicultura: manejo de colônias”. O conteúdo apresenta informações detalhadas sobre saúde e segurança na atividade agropecuária, revisão da colônia, preparo da cera mista, alimentação das abelhas, multiplicação das colônias e fortalecimento das colônias fracas. As informações estão disponíveis no site: https://ead.senar.org.br/senarplay/cartilhas/meliponicultura-manejo-de-colonias.

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