Voltado para crianças e jovens de escolas públicas e particulares, ação da Embrapa Meio Ambiente já atendeu 60 mil estudantes desde 1997
Após assistirem palestras sobre a importância das abelhas sem ferrão para a sociedade, as colmeias são abertas para que os estudantes tenham contato direto com os insetos; no final da atividade, os alunos podem provar produtos feitos a partir do processo de polinização, como o mel (Rodrigo Zanotto)
O “instinto natural” de afastar ou matar uma abelha quando esse tipo de inseto aparece precisa parar. E por uma série de motivos, pois elas são seres importantes para a polinização de algumas culturas usadas na alimentação humana. Além disso, elas também possuem um papel estratégico na reconstituição de florestas tropicais e na conservação de remanescentes florestais. É o que defende a Embrapa Meio Ambiente em relação às abelhas sem ferrão, que fazem parte da tribo Meliponina (Hymenoptera, Apidae). Trata-se de um dos temas do Programa Embrapa & Escola, criado em 1997 e voltado para crianças e jovens matriculados no ensino fundamental e médio de escolas públicas e particulares. O projeto já atendeu, de forma gratuita, mais de 60 mil estudantes de mais de 50 escolas de Campinas e região, até de cidades de Minas Gerais. Os números são relativos às visitas feitas até o final do ano passado.
Os convidados são levados para conhecer o meliponário da empresa, sediada em Jaguariúna, onde as abelhas sem ferrão são criadas, estudadas e preservadas. Diversas espécies nativas do Brasil desse animal são protegidas e guardadas por especialistas e pesquisadores, técnicos e estudantes. Aproximadamente 4 milhões de insetos ficam no local, em cerca de 400 colmeias, de 15 espécies da região de Campinas. A visita dura entre 45 min e 1h.
No local, são realizados alguns tipos de atividade, como palestra sobre a importância da biodiversidade e a relevância das abelhas sem ferrão para a sociedade, e a possibilidade de uso prático desses insetos. Na sequência, as colmeias são abertas e os alunos fazem contato direto com os insetos. Por fim, alguns produtos feitos com base no processo de polinização são experimentados, como o mel. Há também uma apresentação dos frutos bem e mal formados, para demonstrar aos estudantes os impactos desse procedimento na produção agrícola.
BENEFÍCIOS
Segundo o biólogo e pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Cristiano Menezes, esses insetos são estratégicos na recuperação florestal. Ele revelou que é atribuída a esses animais a responsabilidade pela polinização de 30% das espécies de biomas como a Caatinga e Pantanal e até 90% das espécies da Mata Atlântica. Além disso, a proteção das Meliponina está diretamente ligada à preservação da flora e da fauna silvestres. “Isso favorece a reprodução as plantas, com aumento de sementes nos ambientes, resultando em uma tendência de recuperação florestal de forma mais intensa. E também gera um retorno financeiro a partir de áreas de restauração, regenerando locais com solos degradados. Apesar disso, não é possível estimar concretamente a velocidade dessa recuperação. Em áreas de plantio de Açaí, na região de Belém-PA, por exemplo, o déficit de polinização é grande. Isso reduz a produção dos frutos em torno de 400%. É uma métrica que podemos utilizar.”
Outro ponto fundamental em relação às abelhas sem ferrão diz respeito à produção de alimentos. Elas são responsáveis pela polinização – a transferência de grãos de pólen das anteras (órgão masculinos) de uma flor para o estigma (parte do aparelho reprodutor feminino) da mesma flor ou de uma outra da mesma espécie. O pólen é a célula sexual masculina. Para que haja a formação das sementes e frutos é necessário que os grãos de pólen fecundem os óvulos existentes no aparelho reprodutor feminino de uma flor. Esses insetos polinizam algumas culturas usadas na alimentação dos seres humanos. Alguns exemplos são tomate, berinjela, café e caju.
O biólogo Cristiano Menezes também comentou que as informações sobre os benefícios das abelhas sem ferrão devem chegar ao maior número possível de pessoas. E quanto mais cedo, melhor. “Uma curiosidade interessante é que apesar de não possuírem ferrão, essas abelhas possuem defesa. Algumas delas mordem, beliscam, podem cuspir ácido na pele dos humanos, variando de espécie para espécie. São informações que ajudam a atrair atenção das pessoas para, na sequência, entenderem pontos mais detalhados sobre esses insetos”, contou.
ABELHAS
Existem, em todo o mundo, em torno de 20 mil espécies identificadas de abelhas, sendo 550 sem ferrão, distribuídas na América do Sul, Central, Ásia, Ilhas do Pacífico, Austrália, Nova Guiné e África. No Brasil, de duas mil abelhas, existem cerca de 250 espécies sem ferrão catalogadas, país considerado referência mundial nas tecnologias de criação e manejo destes animais. São abelhas sociais, muitas delas exclusivas do Brasil, geralmente dóceis e que podem produzir muito mel.
O pesquisador Cristiano Menezes explicou que as abelhas sem ferrão são “primas” das que possuem acúleo. A origem delas é de aproximadamente 90 milhões de anos atrás. “As abelhas sem ferrão são antigas. É um grupo que se diversificou pelo tempo de existência na terra. Outro ponto é que elas se espalharam e se separaram pelos continentes durante o processo de deriva continental, desde aquelas abelhas sem ferrão muito pequenas até aquelas de grande porte. Elas possuem hábitos alimentares, cores e comportamentos diferentes. São insetos fantásticos.”
PROGRAMA
O programa Embrapa & Escola, da Embrapa Meio Ambiente possui o objetivo de divulgar e popularizar conhecimentos sobre a pesquisa científica, especialmente aquela desenvolvida para a agricultura e meio ambiente, áreas responsáveis pela produção e pela qualidade dos alimentos que os brasileiros consomem no seu dia a dia.
Para agendar palestras presenciais, é preciso informar o nome da escola, pessoa e telefone para contato, quantidade de turmas, série e número de alunos, nome do professor responsável e, se possível, o número do telefone celular para contato em casos de imprevistos ou emergências. O transporte fica a cargo da escola. As visitas são sempre às quartas-feiras das 9h às 11h. A escola pode escolher dois temas por visita (cada tema tem duração de 50 minutos).
O agendamento deve ser feito no link https://bit.ly/3RgNM6y. Dúvidas podem ser esclarecidas pelo e-mail cristina. [email protected] ou pelo telefone 19 3311-2608.
As turmas devem ter no máximo 40 alunos. Eles serão acompanhados por dois professores. Ao final, será solicitada uma redação ou um desenho, de acordo com a série.
EMPRESA
A Embrapa Meio Ambiente atua em todo o Brasil e é reconhecida como referência nacional e internacional. A sua atuação em pesquisa, desenvolvimento e inovação está voltada para a interface agricultura (atividades agrícolas, pecuárias, florestais e agroindustriais) e meio ambiente, além de trabalhar conciliando as demandas dos sistemas produtivos com as necessidades de conservação de recursos naturais e preservação ambiental. O objetivo principal é buscar a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade.
A empresa, criada em 1982 e em Jaguariúna desde 1985, é uma Unidade de Pesquisa de Tema Básico, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária.
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