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Salvos por protetores, cães e gatos aguardam por adoção

Protetores estão buscando lares temporários ou permanentes para cães e gatos que pertenciam ao coronel reformado José Antônio Prado, 68, que acumulava animais em Campinas e que morreu de câncer na semana passada

Raquel Valli/ Correio Popular
14/04/2021 às 12:10.
Atualizado em 21/03/2022 às 22:29
Cachorros resgatados por protetores recebem cuidados em clínica particular de Campinas: animais esperam por lares provisórios ou permanentes (Kamá Ribeiro/ Correio Popular)

Cachorros resgatados por protetores recebem cuidados em clínica particular de Campinas: animais esperam por lares provisórios ou permanentes (Kamá Ribeiro/ Correio Popular)

Protetores estão buscando lares temporários ou permanentes para cães e gatos que pertenciam ao coronel reformado José Antônio Prado, 68, que acumulava animais em Campinas e que morreu de câncer na semana passada. O ex-oficial do Exército Brasileiro ficou conhecido em abril de 2017, estampando as manchetes da imprensa na cidade, ao ser detido em flagrante pela Guarda Municipal por agredir um agente que averiguava denúncia de maus-tratos em uma casa no Jardim Guarani. Só nesse imóvel havia 60 animais naquela época.

Mas, além dessa casa, o militar mantinha outros cinco imóveis, todos com a mesma finalidade de acumulação. Por isso, a estimativa de protetores é de que, só em 2017, cerca de 100 pets tenham sido resgatados. Agora, calculam que haja por volta de 60 precisando de ajuda. Alguns indivíduos foram salvos esta semana por ONGs, entre as quais a Amor de Bicho. A entidade é uma das mais tradicionais de Campinas, e devido à atuação frequente e à queda nas doações por causa da pandemia está com dívidas que somam cerca de R$ 80 mil em clínicas veterinárias.

Segundo os ativistas, ainda há cinco cães e pelo menos quatro gatos na casa do Jardim Guarani, mas os protetores não têm como resgatá-los sem que haja ajuda com lares temporários ou adotantes disponíveis. Os bichos são alimentados pelo muro, mas não é a forma ideal, pois a ração se mistura às fezes e à urina deles. Vizinhos do imóvel reclamam constantemente do mau cheiro, do choro dos pets e da presença de ratos e baratas. "A responsabilidade pelos bens, direitos e obrigações que compõe o patrimônio do falecido é dos herdeiros", esclareceu a advogada Joanna Paes de Barros e Oliveira, especialista em responsabilidade civil. Contatada, a sobrinha do militar disse que o tio era distante, mas que está tentando ajudar como pode na adoção dos bichos. Já a ex-companheira do coronel não retomou o contato feito pela reportagem.

O advogado João Paulo Sangion, presidente do Instituto de Valorização da Vida Animal (IVVA), é mestre penal pela Universidade de Coimbra (Portugal) e pontuou que nos casos de imóveis trancados, onde haja animais presos precisando de ajuda, essas propriedades são passíveis de invasão devido ao estado de necessidade do animal, que é um bem protegido pelo Direito. "Pode invadir? Pode. Pode arrombar para socorrer? Pode", disse ele.

Preocupada com a situação, a protetora independente Christina Lee Mac Fadden montou um grupo no Whatsapp há quatro meses para tentar encontrar soluções para os pets que pertenciam ao militar.

Ela e a também protetora independente Selma Carvalho tentam ajudar esses bichos desde 2017. Pediram auxílio inclusive ao delegado Bruno Lima, especialista em animais, e ao Departamento de Proteção e Bem Estar Animal (DPBea) da Secretaria Municipal do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura de Campinas (SVDS). Entretanto, não obtiveram sucesso. Em janeiro, a equipe do delegado afirmou que não via indícios de maus-tratos na casa do Guarani. Já o DPBea alegou que se tratava de uma propriedade particular.

Animais viviam em más condições em vários locais

Em 2017, a Guarda Municipal encontrou ossadas de animais em uma das casas do coronel José Antônio Prado no Jardim Chapadão. Na época, a Justiça o proibiu de manter animais em um apartamento que mantinha no bairro Botafogo. Caso a ordem fosse descumprida, o oficial deveria pagar uma multa de R$ 50 mil por dia. A ação foi movida pelo condomínio, devido à reclamação constante de moradores, fartos do mau cheiro e das baratas que advinham das carcaças encontradas no apartamento. A Vigilância Sanitária encontrou ainda cachorros mortos dentro de uma geladeira do imóvel.

Em 2019, pelo menos três cães de pequeno porte eram mantidos em outra casa do militar, esta na Vila Industrial. Vizinhos afirmaram que o coronel chegava de moto às 7h30 e que alimentava os pets com ração, mas que esse era o único cuidado que dispensava aos bichos. Em 2017, em frente à casa do Guarani, quando a GM constatou maus-tratos, o militar foi levado de camburão ao 1º Distrito Policial (1º DP) por desacato, depois que agredir um guarda municipal na frente da imprensa, mas foi liberado após prestar depoimento.

Desde que o assunto veio a público, o Conselho de Defesa dos Animais de Campinas sustentou que o caso era de acumulação. Mas, apesar dos flagrantes de animais em decomposição, de resgatados anêmicos, sem vacina, com doenças graves e contagiosas, como cinomose, o coronel sempre negou as denúncias de maus-tratos, afirmando que os bichos eram sadios e que ele fazia o trabalho de um protetor.

"Qual a grande diferença entre uma pessoa que faz o acúmulo de animais daquela que tem o desejo de ajudá-los? É justamente a condição dessa pessoa de cuidar, porque a que acumula não oferece cuidados básicos de alimentação e higiene. E não são apenas condições financeiras, mas emocionais e cognitivas também", declarou o psicólogo Rafael Andrade Ribeiro, professor da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).

O tratamento de um acumulador, explicou Ribeiro, requer uma equipe multiprofissional, principalmente com a presença de um médico psiquiatra e de um psicólogo. "Isso porque não estamos falando apenas da necessidade de uma intervenção medicamentosa, mas também de padrões de comportamento e de questões emocionais envolvidas. Na rede pública, deve-se procurar uma Unidade Básica de Saúde. Mas, muitas vezes, a pessoa não tem nem a percepção da condição dela, e precisa de intervenção de terceiros", completou o especialista.

AJUDA

Quem quiser ajudar com doações, lar temporário ou permanente, deve entrar em contato com a ONG Amor de Bicho pelas redes sociais:

Facebook: Amor de Bicho Campinas - @amordebichocampinas

Instagram: @amordebichocampinas

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