Em duas décadas, disponibilidade de água nos rios das bacias diminuiu 27% em 20 anos, ficando este ano em 298,70 metros cúbicos por habitante por ano
Represa de Jaguari que compõe o sistema que abastece a Grande SP ( Cedoc/ RAC)
A disponibilidade hídrica durante o período da estiagem nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) está no mesmo patamar das regiões desérticas do Oriente Médio, segundo estudo do Consórcio PCJ, que reúne os usuários de água da indústria, agricultura e abastecimento público. A oferta, que era de 408 metros cúbicos por habitante ao ano (m3/hab/ano) em 1996, data do último levantamento, caiu este ano para 298,70 m3/hab/ano. Ou seja, em 20 anos, a disponibilidade hídrica nas Bacias PCJ, onde está a região de Campinas, caiu 27%. A situação só não é pior porque houve queda de consumo nas duas últimas décadas, mas, mesmo assim, a região está sob alto estresse hídrico. o relatório 2015 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Hídrico aponta que a oferta de água no Oriente Médio caiu em duas décadas de 405m3/hab/ano para 292 m3/hab/ano, queda de 27,9%. Oferta A situação de estresse hídrico atinge as Bacias PCJ e do Alto Tietê (onde está a Grande São Paulo) — a situação ocorre, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) quando a quantidade de água é inferior a mil metros cúbicos de água por pessoa, que encontra dificuldades sérias para suprir as suas necessidades diárias. Segundo a gerente técnica do Consórcio PCJ, Andréa Borges, o caos não se instalou no abastecimento nessas duas décadas porque o consumo de água nas Bacias PCJ caiu 47%. A indústria e a área rural foram responsáveis pela queda — a primeira por adotar cada vez mais o reúso de água nas unidades fabris e a segunda por adotar técnicas menos consumistas na irrigação. Com uma oferta restrita de água, a redução na demanda é importante até para garantir a melhoria da qualidade do produto — mais água nos rios permite maior diluição de poluentes. População “Mesmo com o aumento populacional verificado no período, no qual a região passou de 3,8 milhões para 5,2 milhões de habitantes, a redução da demanda no setor industrial e agrícola propiciou que a situação hídrica atual não fosse ainda mais grave”, disse. O consumo para abastecimento humano, no entanto, cresceu no período 47%, saindo de 8,46 m3/s para 12,46 m3/s, segundo o Consórcio, que utilizou dados do Relatório de Situação 2014 da Agência de Água PCJ. A redução das demandas nos setores industrial e rural se deve em parte à consolidação do sistema de gerenciamento dos recursos hídricos e à implantação da cobrança pelo uso da água, disse o secretário executivo do Consórcio PCJ, Francisco Lahóz. Reúso “A implantação da cobrança pelo uso da água criou e consolidou uma nova cultura de trato com água, gerando a conscientização de valor da água e que ela é um bem finito”, afirmou. Os processos de reúso são cada vez mais comuns nos parques industriais da região, além de medidas de redução de consumo. São atitudes que visam economia dos recursos hídricos e também uma forma de reduzir os gastos com a conta de água. A Refinaria de Paulínia (Replan) é uma das empresas que trabalha com reúso, tanto que, em 2002, depois de 30 anos com uma outorga que previa captação de até 3 mil m3/h, a refinaria decidiu reduzir sua licença para quase 40%, os atuais 1.870 m3/s, devido ao sucesso de um trabalho de reúso e redução de perdas implementado entre 1990 e 2001. Fábrica A montadora Honda também mantém um programa permanente de redução do consumo, tratamento de efluentes e reutilização da água. A empresa dispõe de estações de tratamento de efluentes (ETE) e de água (ETA) em suas fábricas no Brasil, o que permite devolver o recurso ao meio ambiente em condições totalmente adequadas. O tratamento possibilita ainda a reutilização da água em atividades como irrigação da área verde, atividades industriais, além do uso em sanitários e redes de hidrantes. Na unidade de Sumaré, a ETE e a ETA são interligadas e, juntas, têm capacidade para tratar 720m3 de efluentes por dia. A Rhodia, em Paulínia, também investe na economia dos recursos hídricos, atuando na redução de captação, redução de consumo, reúso de água e diminuição nas emissões hídricas. O mais recente projeto implementado foi o aprimoramento tecnológico do sistema de tratamento de água, cujo investimento consumiu cerca de R$ 5,5 milhões, permitindo a recuperação e consequente reúso de 75m3/h de água, o que equivale ao consumo de uma cidade de 6 mil habitantes. Cantareira O nível do Sistema Cantareira ficou estável nesta quinta-feira (23), em 20,1%, segundo boletim da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A situação, porém, ainda é crítica, e apenas a segunda cota do volume morto foi recuperada. A chuva dos últimos dias novamente não trouxe grande volume de água para o reservatório — foram 4,4 milímetros (mm). Em abril, a chuva registrada é de 44mm, o equivalente a 48,9% do esperado para o mês. O sistema também se mantém estável se considerado outro método de cálculo usado pela Sabesp. Está em 15,5%, se considerados os 287,5 bilhões de litros do volume morto na capacidade total do sistema, e em 9,2%, considerando o que ainda falta recuperar do volume morto já usado.