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Suspensão acentua guerra política

Morte de voluntário, provavelmente por suicídio, leva Anvisa a paralisar testes em todo o País

Das agências
11/11/2020 às 07:41.
Atualizado em 27/03/2022 às 17:58
Entrevista coletiva em que representantes da Anvisa esclarecem sobre a suspensão dos testes da fase 3 da vacina Coronavac no Brasil (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Entrevista coletiva em que representantes da Anvisa esclarecem sobre a suspensão dos testes da fase 3 da vacina Coronavac no Brasil (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

A suspensão dos testes da Coronavac no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acentuou a guerra política em torno da corrida por uma vacina contra o coronavírus. Ontem, a Anvisa atribuiu a suspensão a um "evento adverso em um voluntário dos estudos". O evento em questão é o provável suicídio de um dos voluntários nos testes. O Instituto Butantan, que desenvolve o medicamento em parceria com o laboratório chinês Sinovac, assegura que a morte não teve nenhuma relação com o imunizante. A polêmica se acirrou após declarações do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais de que a vacina causa morte, invalidez e anomalia e que "ganhou" mais uma disputa contra o governador de São Paulo, João Doria. A Anvisa afirmou ontem que a retomada dos testes para produção da Coronavac depende agora de o Instituto Butantan acionar o Comitê Internacional Independente, responsável por dar um parecer sobre a realização dos testes, com informações detalhadas. "Permitir o prosseguimento sem que tudo fosse devidamente esclarecido seria uma irresponsabilidade, beirando a prática criminosa", disse o presidente da agência, Antonio Barra Torres. A Anvisa justificou a decisão de suspender os testes na segunda-feira, apontando o envio de informações incompletas e por canais errados por parte do instituto paulista após a morte do voluntário na Capital. O Butantan reforça que a ocorrência não tem relação com o produto. "Não houve envio para esta agência, via e-mail, via sistema, nada, nenhum relatório com detalhamento foi encaminhado", declarou a diretora da Anvisa, Alessandra Bastos, responsável pela área de medicamentos, durante coletiva de imprensa. O Instituto Butantan, porém, garante que o evento foi reportado detalhadamente à Anvisa no último dia 6. O voluntário teria recebido a dose no dia 29 de outubro, 25 dias antes do óbito. Por causa do ataque hacker, no entanto, a Anvisa só recebeu as informações ontem. O coordenador executivo do Comitê de Contingência do Coronavírus em São Paulo, João Gabbardo, questionou a motivação da decisão da Anvisa, que, "coincidentemente, acontece no mesmo dia em que o governo de São Paulo anuncia a chegada das primeiras doses da vacina e apresenta a proposição, início de obras, prazos e cronograma de conclusão para que o Butantan possa ter condição de produção desta vacina". Suicídio A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo considera que suicídio foi a causa provável da morte do voluntário da vacina Coronavac. A morte ocorreu no dia 29 de outubro. O boletim de ocorrência feito pela Polícia Civil registrou o caso como "suicídio consumado". O laudo do Instituto Médico Legal ainda não foi concluído. Não se sabe se o voluntário morto havia tomado a vacina ou placebo. Bolsonaro Em novo capítulo da disputa política com o governador de São Paulo, João Doria, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar a Coronavac. "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", publicou. O comentário, sem base em provas, foi feito a um seguidor no Facebook, acompanhado do link de uma notícia sobre a suspensão dos testes. Bolsonaro e Doria divergem sobre as medidas contra a pandemia e se tornaram adversários políticos declarados. No fim de outubro, Bolsonaro havia dito que o governo não compraria a Coronavac, contrariando o Ministério da Saúde, que um dia antes firmara parceria com Doria para aquisição do medicamento. “Negar o acesso a uma vacina aprovada pela Anvisa em meio a uma pandemia que já vitimou 155 mil brasileiros é criminoso e desumano”, afirmou Doria na ocasião. STF O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, determinou ontem à noite que a Anvisa, no prazo de 48 horas, preste informações complementares sobre os motivos adotados para suspender os testes com a Coronavac, bem como sobre o estágio de aprovação desta e demais vacinas contra a Covid-19. Atualmente, há ações na corte que tratam do tema – três favoráveis à vacinação mais ampla e/ou obrigatória, e uma que pede a proibição da vacinação compulsória.

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