O pouso do Antonov em Campinas tornou Viracopos uma meca dos apaixonados por aeroportos
"Gigante" ucraniano do ar: com 65m de comprimento e 21m de altura, aeronave conta com 24 rodas, que permitem pousos na neve e nas mais diferentes superfícies (Wagner Souza/AAN)
Apaixonados por Antonov, o segundo maior cargueiro aéreo em operação no mundo, marcaram presença no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, na terça-feira passada. Foi a segunda vez neste ano que o “gigante” desceu em Campinas e, desta vez, atraiu a presença de aproximadamente 150 admiradores. Força de vontade, fé e perseverança para realização de um sonho foram atributos demonstrados por muitos seguidores do “gigante russo do ar”. Foi o caso, por exemplo, de Felipe de Jesus Santos, vendedor de uma loja de calçados de Campinas, de 27 anos. O rapaz não mediu esforços e, depois de uma noite mal dormida pela ansiedade, acordou às 7h, no Jardim Rossin, para realizar mais um objetivo em sua vida. Santos planejou ver de perto o gigante dos ares, o Antonov, pousando no aeroporto de Viracopos. Sua meta foi registrar imagens do fato raro e, ao mesmo tempo, ter a oportunidade de ficar ao lado do comandante que faz o trajeto entre continentes do planeta na maior aeronave comercial do mundo. Santos revelou que sempre foi apaixonado por aviões e que o Antonov é uma atração mais que especial. “O Antonov AN 124 – Ruslan, que desceu em Viracopos nesta terça-feira, é o segundo maior cargueiro do mundo, ficando atrás apenas do Antonov AN-225 , que eu já tive também o orgulho de ver de perto”, comentou. O vendedor comemorou estar em Campinas para poder realizar seus sonhos. “Viracopos, por ser o principal aeroporto de cargas, tem o privilégio de receber o Antonov. Neste ano, é a segunda vez que veio e, no ano passado, foram três oportunidades”, comentou. Todas vistas por ele. Para tentar realizar mais um sonho, Santos chegou às 9h em Viracopos e esperou até as 11h30 para ver o Antonov pousar. “Quando cheguei, fui até a estrada lateral de terra, que tem próxima ao aeroporto, pra tentar ver a aeronave de uma posição mais próxima. Porém, a informação inicial de que ele passaria por ali não se confirmou”, lamentou. “Eu e todos que estavam no local fomos surpreendidos, pois ao pousar, o avião fez outro trajeto”, disse. Para não perder o melhor ângulo, os apaixonados por Antonov tiveram que ser rápidos. “Foi uma correria só. O pessoal pegou as motos e os carros e foram todos correndo para o outro lado. Fui direto pra área de visualização de naves, dentro do aeroporto, de onde pude ver suas manobras antes de parar totalmente‘, disse. A aventura não parou por aí. Depois de fazer fotos do avião na pista, Santos disse que foi para uma área de desembarque, por onde a tripulação do Antonov sempre passa. “Descobri que os integrantes e o comandante sempre passam por esse local. Então, fui correndo pra lá pra fazer uma fotografia com o piloto, como eu já fiz no pouso do Antonov em fevereiro deste ano”, comentou. “Já tenho uma foto do comandante do outro Antonov e queria ter novamente deste outro voo histórico”, afirmou. Depois de muita espera e perseverança, o vendedor finalmente conseguiu realizar mais uma parte de seu sonho: fez a foto com o comandante. “Pretendo guardar a sete chaves e mostrar a todos que eu conheço, além de deixar este registro histórico para filhos e netos”, comentou. Santos disse que desde os 7 anos é “louco” por aviões porque seu pai o levava sempre a Viracopos para ver pousos e decolagens. Sua “loucura” por aviação teve outro capítulo inusitado. “Pra realizar o sonho de voar, vendi minha moto, que comprei com muito suor quando eu tinha apenas 19 anos, pra poder ir até a Europa e tentar conhecer Cristiano Ronaldo, outro sonho que eu tenho e que ainda não consegui realizar”, disse. “Pelo menos tive a minha primeira viagem de avião e isto não tem preço”, comentou. Conhecer o jogador ainda está em seus planos e ele disse que não vai desistir. Cargueiro veio carregar mercadorias de exportação O gigante do ar Antonov AN 1240 T-Ruslan — segundo maior cargueiro do mundo — tocou o solo do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, às 11h33 de terça-feira passada, para fazer um carregamento especial de mercadorias de exportação. Foi a segunda passagem da aeronave ucraniana em Viracopos neste ano. A aeronave que veio desta vez a Campinas tem 65m de comprimento e 21 de altura. Conta com 24 rodas, que permitem ao avião pousos na neve e em diferentes superfícies. Fabricado no tempo da União Soviética, entre as décadas de 1980 e 1990, o avião é utilizado em grandes carregamentos de cargas e apresenta atualmente a bandeira da Ucrânia. Esse Antonov decolou no domingo de Mumbai, na Índia, e fez duas paradas antes de aterrissar em Viracopos. Primeiro fez escala em Dacar, no Senegal, e depois tocou a pista do Aeroporto Internacional de Brasília na segunda-feira. A operação foi coordenada pela Delphi Forwarding, empresa que atua em logística de comércio exterior e serviços de transporte internacional e desembaraço aduaneiro no Brasil. A bordo do Antonov estava uma carga de dimensões volumosas, que não seria capaz de ser embarcada em nenhuma outra aeronave. O cargueiro trouxe 50 toneladas de equipamentos industriais para duas empresas privadas: a Brainfarma, uma das maiores fabricantes de medicamentos do Brasil, e a Cosmed, especialista na produção de produtos para a saúde como nutricionais e dermocosméticos. Os maquinários importados irão ampliar e modernizar parques industriais em Anápolis (GO). Em Viracopos, a carga carregada não foi divulgada pela Aeroportos Brasil Viracopos. Porém, a rotina foi alterada por causa do “gigante”, para realizar a operação na pista com a mobilização de equipamentos e guindastes. A aeronave decolou na quinta-feira pela manhã rumo ao aeroporto Luis Muñoz Marín, em San Juan, Porto Rico. Vale lembrar que, no ano passado, o Antonov pousou três vezes em Viracopos. Engenheiro e vendedor vibraram de emoção Outro apaixonado por aviação marcou presença também na terça-feira em Viracopos para ver o Antonov. Alexandre Rocha, professor de curso técnico de Campinas, disse que chegou ao local às 10h30 porque estava acompanhando o trajeto do Antonov desde Brasília, por meio de um site que mostra a trajetória dos Antonov pelo mundo. “Calculei que estaria em Campinas por volta das 11h e fui conferir de perto”, afirmou. O professor disse que não perdeu a viagem. “Foi a primeira vez que vi esta aeronave e foi uma experiência bem bacana, de muitas que pretendo fazer desse tipo. Espero ver outras vezes, afinal é um avião russo, que hoje tem bandeira da Ucrânia, tem muita história e demonstra um visual bem diferenciado”, afirmou. Rocha destacou que a grandiosidade da nave gera muita curiosidade e que vale a pena ver de perto. “Chama a atenção por ser um avião gigantesco e por ter um trem de pouso maior que os demais. É uma aeronave mais antiga e não tem tanta tecnologia, mas é muito interessante porque foge do padrão dos atuais. Tem recortes bonitos e carrega 150 toneladas”, comentou. A movimentação provocada pelo Antonov foi marcante também para Rocha. “Parecia que eu estava no filme Twister, quando todo mundo começou a correr na estrada de terra a pé e de motocicleta para ter uma visão melhor do pouso no outro lado da pista”, comparou. Rocha afirmou que passou a estudar e acompanhar aeronaves depois do acidente da TAM, no voo 3054 com um airbus A320-233 vindo do Aeroporto Internacional de Porto Alegre com destino ao Aeroporto de Congonhas, em 17 de julho de 2007. Segundo Rocha, sua atração por aviões é mais pela tecnologia e pela curiosidade. “Não tenho tanta vontade de voar e confesso que até fico com receio de fazer viagens. Porém, é muito desafiador vencer o ar com esta tecnologia e poder voar para qualquer parte do mundo nessas naves”, comentou.