Patrimônio cultural e arquitetônico, o Colégio Culto à Ciência é a instituição pública de ensino mais antiga do Brasil funcionando no mesmo local desde sua fundação, na rua que hoje leva seu nome, no bairro Botafogo (Kamá Ribeiro)
A Escola Estadual Culto à Ciência é um símbolo histórico, um patrimônio cultural e arquitetônico campineiro e representa um marco na formação de figuras de destaque do cenário nacional. Pelas salas de aulas do colégio, passaram o pai da aviação Alberto Santos Dumont, o poeta Guilherme de Almeida, o jornalista Júlio de Mesquista, além de políticos e artistas. Ao completar hoje 149 anos, a escola ainda proporciona aos alunos e visitantes uma viagem pela história, com sua arquitetura clássica francesa, mobiliário antigo e milhares de livros.
O Colégio Culto à Ciência é a instituição pública de ensino mais antiga do Brasil funcionando no mesmo local desde sua fundação, na rua que hoje leva seu nome, no bairro Botafogo.
A comemoração do 149º aniversário se restringirá a uma solenidade interna voltada aos 480 estudantes. “Será resgatado o valor do seu patrimônio, o que representa para a sociedade”, afirma o diretor da unidade, Glauber Maldonado Ferreira.
. Porém, uma comissão de trabalho formada por professores, alunos e funcionários iniciou a preparação das festividades para 2023, quando a escola completará 150 anos.
A data de 13 de abril leva em consideração o lançamento da pedra fundamental, em 1873, do Culto Á Sciencia, respeitando a grafia da época. Esse é o ano, inclusive, que aparece no logotipo da escola, acompanhado da frase em latim “Animum exerce in optimus rebus” (“Exercite sua mente nas melhores coisas”).
Já a inauguração foi em 12 de janeiro de 1874. Várias personalidades nacionais estudaram na escola. Dados históricos apontam que o pai da aviação, Alberto Santos Dumont, mineiro de Cabangu, foi alfabetizado até os 10 anos pela irmã mais velha, Virgínia. O seu primeiro registro escolar é de 1883, ano em que foi matriculado no Culto à Ciência.
Entre seus ex-alunos, estão ainda o poeta Guilherme de Almeida, o jornalista Júlio de Mesquista, o apresentador de TV Fausto Silva e a atriz Regina Duarte. Também fazem parte da lista quatro ex-prefeitos de Campinas, Raphael de Andrade Duarte, Francisco Amaral, Edvaldo Orsi e Jonas Donizette. Aluno no início da década de 1980, Donizette disse, em visita à escola, se lembrar dos professores e de ter participado de uma Olimpíada de Matemática. “Até que eu não fiz feio. Fiquei em terceiro lugar na cidade”, comentou.
Segunda geração
Com 149 anos de história, o Culto à Ciência já recebeu diferentes gerações da mesma família. É o caso da atual coordenadora-geral do Grêmio Estudantil da escola, Sofia Crespo Barbiero, de 16 anos. “Meu pai se formou aqui”, afirma Sofia, que está no segundo ano do ensino médio. No entanto, somente agora ela está frequentando, presencialmente, a instituição em virtude do isolamento social em 2021 provocado pela pandemia de covid-19.
“Alunos do terceiro ano somente agora estão frequentando a escola por causa da pandemia”, explica o diretor da unidade, Glauber Maldonado Ferreira.
Uma das características do Culto à Ciência é que sua origem está ligada a uma grande transformação da vida brasileira, na transição da Monarquia para a República. A instituição nasceu como Sociedade Culto à Ciência, uma escola particular para meninos. A maioria dos alunos eram filhos de maçons da Loja Maçônica Independência — fazendeiros, intelectuais e comerciantes.
Muitos deles eram republicanos. O então secretário da Sociedade, Manuel Ferraz de Campos Sales, foi o terceiro presidente do Estado de São Paulo, cargo hoje equivalente a governador, de 1896 a 1897, e o quarto presidente da República, entre 1898 e 1902.
Retrato da história
O passeio pelo interior do Colégio Culto à Ciência é uma verdadeira viagem pela história. O prédio, nos moldes da arquitetura clássica francesa, foi tombado como patrimônio histórico em 1983 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico), órgão da Secretaria Estadual de Cultura. “Essa escola é linda”, destaca a supervisora de ensino do estabelecimento, Luciana Barbosa Gerbasi.
A escola conta ainda com um centro de memória que preserva um acervo com mais de 20 mil livros, incluindo obras que datam de 1600. Guarda ainda uma pequena mostra de museu natural, com animais empalhados, mobiliário e peças antigas de laboratório. “As estantes são as originais da época de construção, trazem o símbolo da sociedade fundadora”, aponta a vice-diretora Elimar Santos.
Desde 2015, o Culto à Ciência oferece curso em período integral. “O objetivo é a inserção pré-científica, uma realidade da universidade que acontece em uma escola pública”, diz o diretor Glauber Maldonado. É apresentado um problema e os alunos têm de buscar uma solução.
Há projetos que ganharam destaque nacional e internacional. É o caso de um canudo biodegradável feito à base de inhame apresentado em uma feira em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, em setembro de 2019. A criadora, Maria Pennachin, hoje é estudante de Engenharia Química da Universidade de São Paulo (USP).