Pela terceira vez consecutiva, Unicamp registra número de inscritos superior ao do certame anterior
Estudantes indígenas no campus da Unicamp e o aluno de Engenharia Elétrica Arlindo Baré: conhecimento acadêmico ajuda a dar voz às etnias (Divulgação/ Unicamp)
Estudantes indígenas no campus da Unicamp e o aluno de Engenharia Elétrica Arlindo Baré: conhecimento acadêmico ajuda a dar voz às etnias
A terceira edição do Vestibular Indígena da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que será realizada em 11 de abril, contará com 1.697 participantes. Os candidatos disputarão 88 vagas em diferentes cursos da instituição. É o terceiro recorde seguido de inscrições para o certame, que como o nome diz é destinado aos indígenas. A primeira edição ocorreu em 2019.
No primeiro ano do Vestibular Indígena, a Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) registrou 611 inscritos, que disputaram 72 vagas oferecidas. Na segunda edição, realizada no ano passado, o número de inscritos subiu para 1.675, na disputa por 96 vagas. Atualmente, a Unicamp conta com um total de 148 alunos indígenas, sendo que 136 têm matrículas vigentes e 12 estão com disciplinas trancadas.
O diretor da Comvest, José Alves de Freitas Neto, assinala o crescimento do número de inscritos mesmo em um cenário de pandemia. "É muito importante destacar a mobilização dos estudantes indígenas, neste ano em particular. As condições adversas de estudo no contexto da pandemia indicava que teríamos menos inscritos, mas mesmo assim o número de concorrentes aumentou. Dessa forma, considero que, com este número de inscritos, o Vestibular Indígena da Unicamp está consolidado", argumentou.
José Alves sublinha a importância de se possibilitar a entrada de indígenas na universidade. "Esses estudantes têm menos oportunidades de acesso ao ensino superior e temos que valorizar o interesse deles de estarem em uma instituição relevante como a Unicamp. A presença deles no meio acadêmico é extremamente importante, pois é uma população que está ameaça por diversas questões, principalmente sanitárias. Nesse sentido, é importante ressaltar que o Vestibular Indígena seguirá totalmente o protocolo sanitário da covid-19", garantiu.
O estudante de Engenharia Elétrica e representante do Coletivo Acadêmicos Indígenas da Unicamp, Arlindo Baré, valoriza a inserção dos povos indígenas nas universidades. "Sou da primeira turma do Vestibular Indígena e fico muito feliz por batermos os recordes de inscrições a cada edição. Viemos para quebrar paradigmas e preconceitos relacionados aos nossos povos", disse.
Arlindo indica a importância de os povos indígenas adquirirem conhecimento através do meio acadêmico. "Além do conhecimento da nossa cultura, precisamos ter voz. E para isso precisamos ter embasamento para continuar a luta de questionar essa esfera política tão negacionista em relação aos nossos direitos", acrescentou.
Ele reivindica que sejam abertas vagas destinadas a estudantes indígenas nos cursos da área da Saúde. Segundo ele, a região Amazônica é extremamente carente de atendimento médico. "Tenho certeza que se abrissem vagas para indígenas nos cursos de Medicina e Enfermagem, elas seriam rapidamente preenchidas, tendo em vista toda a precariedade que vivenciamos de atendimento na nossa região", inferiu.
As inscrições
A cidade com maior número de inscritos no Vestibular Indígena 2021 é São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, com 717 candidatos, um aumento de 40% em relação ao ano passado, quando a cidade registrou 513 inscritos. Tabatinga, também no Amazonas, é a segunda cidade com maior procura pelo certame, com 636 inscritos, contra 837 na edição anterior. O curso mais procurado é Nutrição, seguido de Engenharia da Computação, que foi inserido nesta edição do Vestibular Indígena, junto com Engenharia de Computação. Os cursos de Ciências Biológicas, Enfermagem e Farmácia não abriram vagas para o ingresso em 2021.
Em relação à demanda, há cursos de todos os segmentos entre os mais procurados nessa edição do Vestibular Indígena: Nutrição (178 inscritos), Engenharia da Computação (137 inscritos), Administração (125), Pedagogia (112), Educação Física (79), Administração Pública (79), Engenharia Elétrica (60), Ciência da Computação (58) e Arquitetura e Urbanismo (38), entre outros.
Nesta edição do Vestibular Indígena, a Comvest irá aplicar a prova nas mesmas seis cidades do vestibular passado: Bauru (SP), Campinas (SP), Caruaru (PE), Dourados (MS), São Gabriel da Cachoeira (AM) e Tabatinga (AM). O exame será realizado no dia 11 de abril de 2021 (seguindo o horário local).
A prova será em língua portuguesa, composta de questões de múltipla escolha e uma Redação, da seguinte maneira: Linguagens e códigos (14 questões); Ciências da Natureza (12 questões); Matemática (12 questões); Ciências Humanas (12 questões); e uma Redação. O programa de estudos para a prova já está disponível no Edital, na página da Comvest. O ingresso dos aprovados ocorrerá em agosto de 2021.
Os candidatos deverão comprovar que pertencem a uma das etnias indígenas do território brasileiro, por meio da documentação especificada no edital da Unicamp, a ser entregue no dia da prova. Outro pré-requisito é que os candidatos tenham cursado o ensino médio integralmente na rede pública (municipal, estadual, federal) ou em escolas indígenas reconhecidas pela rede pública de ensino ou tenham obtido a certificação do ensino médio pelo ENEM ou exames oficiais (por exemplo, o Enceja). Caso sejam aprovados no vestibular, os estudantes deverão comprovar as exigências, apresentando no ato da matrícula toda a documentação exigida.