CADERNO C

A volta da banda Carlos Gomes

Após dez anos fora de atividade, a banda celebra 130 anos de fundação com um concerto especial nesta sexta-feira, no Teatro Castro Mendes, mas precisa de recursos para dar continuidade à trajetória centenária

Cibele Vieira/cadernoc@rac.com.br
02/07/2025 às 16:11.
Atualizado em 02/07/2025 às 16:11

Banda Carlos Gomes proporcionou momentos marcantes no cenário cultural de Campinas, tanto no século passado como no atual, com apresentações em solenidades, praças e instituições da cidade (Divulgação)

A apresentação da tradicional banda campineira, fundada em 1895 por imigrantes italianos, resgata um símbolo da história cultural da cidade e referência no cenário musical do Interior paulista. A Banda Carlos Gomes se apresenta no dia 4 de julho, justamente o dia em que foi fundada há 130 anos, no palco do Teatro Castro Mendes. Participam 42 músicos com instrumentos de sopro e percussão, com um repertório que homenageia nomes da música brasileira, com o concerto "Banda Carlos Gomes — Um novo Ato". 

Composições de Pixinguinha, Guinga, Duda, Aldir Blanc e Carlos Gomes fazem parte do repertório exclusivamente brasileiro e cuidadosamente escolhido sob a regência do maestro Wilson Dias e participação especial da soprano Marina Gabetta, "Essa retomada representa não apenas a preservação de um patrimônio histórico-musical de Campinas, mas também um novo ciclo de integração com o público e valorização das raízes culturais da cidade", comenta Carlos Eduardo da Silva, presidente da Banda. 

Essa apresentação, entretanto, ainda não formaliza o retorno da banda a uma agenda ativa. Apesar dos esforços dos músicos, com idades entre 15 e 60 anos de idade, a falta de dinheiro para manutenção da sede e para as despesas gerais, são os principais problemas. Hoje, o grupo de 42 músicos — entre eles apenas cinco remanescentes da antiga banda — atuam voluntariamente, se juntando quando há alguma apresentação, como a desta sexta-feira. O concerto terá a duração de aproximadamente uma hora, com classificação livre e os ingressos serão simbólicos, com valor máximo de R$ 5. 

UMA RICA HISTÓRIA 

A Banda Municipal Carlos Gomes foi fundada em 4 de julho de 1895, sob a denominação de "Corporação Musical Carlos Gomes Ítalo-Brasileira", por iniciativa de imigrantes italianos que se estabeleceram na região. Em 1943, com a Segunda Guerra Mundial e a consequente proibição do então presidente Getúlio de Vargas de fazer qualquer citação à Itália, o nome mudou para "Banda Municipal Carlos Gomes". O grupo chegou a ser considerado um dos mais importantes do Interior paulista. 

Entre os muitos destaques de sua trajetória, são destacados a recepção a Santos Dumont no ano de 1903; a conquista do título de campeã em desfile no Rio de Janeiro em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil (1922); a participação ativa no sesquicentenário de nascimento de Carlos Gomes, em homenagens do Ministério da Cultura e Educação (1986); a outorga da "Medalha Carlos Gomes" pela Câmara de Campinas (1995); e o concerto comemorativo para lançamento nacional de álbum com a coleção em CD de óperas de Carlos Gomes (1997). 

O tombamento de sua sede aconteceu em 2006, quando recebeu o título de Bem Histórico e Cultural de Campinas. A construção do prédio, estruturado para ensaios, apresentações e eventos culturais, foi concluída em 1931, graças a recursos angariados em quermesses e doações. Localizado na Rua Benjamin Constant 1423, o imóvel segue preservado para atividades culturais. 

TEMPOS DIFÍCEIS 

A banda que sobe ao palco do Castro Mendes para celebrar o aniversário de uma das mais antigas formações musicais da cidade é composta por músicos voluntários e amigos de Campinas — inclusive membros da Orquestra Sinfônica — e de outras cidades da região, como Hortolândia, Americana, Limeira, Mogi Mirim e Sorocaba. O dinheiro para despesas básicas como deslocamento sempre falta, o que acaba desestimulando ensaios periódicos, mas não consegue apagar o sonho de retomar a formação com qualidade e uma agenda ativa.

A falta de verbas para manutenção foi a razão da banda ter ficado sem se apresentar por quase uma década, conta o clarinetista Carlos Eduardo da Silva (Dudu), atual presidente. "Estamos nos organizando para disputar alguns editais de fomento cultural e, com isso, retornar com ensaios periódicos e uma agenda formal, ativa", diz. O último projeto, financiado com verbas de leis de incentivo cultural (Proac), foi formalizado antes da pandemia, quando a sede foi usada durante um ano para aulas de música abertas à comunidade. 

A retomada da banda começou a ser discutida em 2023, e o primeiro passo foi formalizar a corporação em todas as exigências legais, para se habilitar a concorrer aos editais. Hoje, o aluguel da sede para aulas ou ensaios eventuais de grupos musicais rende alguma verba para pagar água, luz e impostos, mas quando não há arrecadação suficiente, membros mais antigos dividem e saldam essas despesas com recursos do próprio bolso, conta Eduardo. 

Essa situação é semelhante à que vive hoje a "Corporação Musical Campineira dos Homens de Cor" (conhecida com a Banda dos Homens de Cor), com 93 anos de existência. Com formação voluntária de aproximadamente dez músicos que participam de ensaios regulares, também pede socorro financeiro por não ter condições de arcar com a despesas de preservação patrimonial da sede, restauração de instrumentos e guarda de arquivos, conta o músico Eleotério Pereira Botelho. Ela e a banda Carlos Gomes são as únicas que restaram em Campinas, da época de ouro das retretas nos coretos.

PROGRAME-SE 

Concerto ‘Banda Carlos Gomes — Um novo Ato’ 

Quando: Sexta-feira, dia 4, às 20h 

Onde: Teatro Castro Mendes — Rua Conselheiro Gomide, Vila Industrial 

Ingressos (valor simbólico): R$ 5 (inteira) e R$ 2,50 (meia) — na plataforma Sympla 

Informações: Whatsapp (19) 99341-4163 Instagram @banda.cgomes

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