A vida campineira no primeiro ano pós epidemia de febre amarela, com a população assustada, temendo uma novo avanço da doença é o foco do livro
No final do século 19, a epidemia de febre amarela quase fez Campinas sumir do mapa. Era uma cidade de agricultores milionários, mas carente de infraestrutura urbana. O esgoto corria a céu aberto, o lixo de amontoava, havia brejos na região central. E mosquitos, muitos mosquitos. Quando os surtos explodiram, quem tinha recursos ou refúgio longe daqui arrumou as malas e partiu. Quem não tinha, morreu à míngua. A vida campineira no primeiro ano pós epidemia de febre amarela, com a população assustada, temendo uma novo avanço da doença é o foco do livro A Serpente Espreita Campinas, ambientado no ano de 1891, do advogado, historiador e acadêmico Jorge Alves de Lima, o terceiro da série Campinas Mártir, porém Histórica, que vai abarcar o período de dez anos a contar do início da peste, em 1889. O livro será lançado na próxima quinta-feira, dia 30 de maio, no I Am Residence Hotel, no Cambuí. “Em 1891, o povo estava apavorado, com medo de que a epidemia fizesse novas vítimas. A peste teve reflexos em Campinas, no Estado e no Brasil. Em Campinas, a Câmara Municipal teve demissão coletiva, a cidade ficou sem governo. Foi um período bem difícil”, coloca Alves de Lima, citando que como nos dias atuais, os políticos cuidavam mais de seus próprios interesses, pouco se importando com a população. Segundo ele, foi uma época obscura. “Políticos se atacavam e se culpavam pelas mazelas. O amparo aos doentes dependia principalmente da caridade voluntária, ou de médicos que colocaram a própria vida em risco e permaneceram firmes, socorrendo quem definhava”, afirma o autor. Foi um tempo em Campinas que revelou heróis. E também mostrou espíritos doentes, interessados em salvar a própria pele, sem pensar nos semelhantes. Quem gosta de história pode mergulhar nas páginas de A Serpente espreita Campinas, terceiro volume de uma série que, desde 2013, conta capítulos detalhados da saga. Alves de Lima é presidente da Academia Campinense de Letras (ACL), campineiro apaixonado pela cidade, que trabalhou décadas como assessor jurídico da Prefeitura, e sempre se dedicou a procurar documentos, fotos e jornais antigos, pesquisando aquela tragédia urbana. O historiador é autor também de uma série sobre Carlos Gomes, o Tonico de Campinas. Já lançou três volumes sobre a vida de Carlos Gomes e está terminando o quarto livro da série, com lançamento previsto para setembro. “Dei uma pausa na série sobre o período e efeitos da peste, para me dedicar aos livros sobre Carlos Gomes, mas pretendo lançar um título por ano, até 1899. Antes da edição atual, Alves de Lima lançou O Ovo da Serpente (2013) e O Retorno da Serpente (2014), com a reprodução dos episódios sombrios de 1889 e 1890, quando a doença devastou a cidade. Nesta terceira edição, o autor detalha o cotidiano de uma cidade apreensiva, clamando por socorro e investimentos, tentando se reeguer e se livrar de novos surtos. Cenário onde rivais políticos se degladiavam, articulavam golpes, mantinham milícias, chamavam revoltas. “A sociedade vivia um drama envolvendo intolerância política e um mosquito nefasto, que se proliferava em áreas sem manutenção. Algo bem parecido com os dias de hoje”, diz o autor, citando que na época, a principal causa da epidemia era a falta de limpeza da área urbana. “Hoje, a situação é melhor, mas na periferia ainda impera terrenos abandonados, cheios de lixo e todo tipo de sujeira. Nessa situação, o mosquito da dengue encontra ambiente propício para se proliferar”, destaca Alves de Lima. Os livros do historiador inspiraram até uma série especial de reportagens na EPTV em 2017, chamada A Peste. O livro atual, como os anteriores, é ilustrado com um rico material fotográfico de época, garimpado em arquivos públicos e privados, em especial imagens do Centro de Memórias da Unicamp. O livro é uma publicação da Editora Pontes. AGENDE-SE O quê: Lançamento do livro A Serpente Espreita Campinas, de Jorge Alves de Lima Quando: Dia 30/5, às 19h30 Onde: I AM Residence Hotel (Rua dos Alecrins, 745, Cambuí) Quanto: Entrada franca