Heloisa Schurmann lança Pequeno Segredo: as lições de Kat para a família Schurmann
Uma história real, sobre o encontro de uma criança com um casal de navegadores e as relações intensas e felizes resultantes dele. Isso é o que mostra o livro Pequeno Segredo: as lições de Kat para a família Schurmann (editora Agir, R$ R$ 29,90), escrito por Heloisa Schurmann e que será lançado hoje, em Campinas. “O livro conta a história de Kat, de como ela veio a fazer parte de nossas vidas e nós da dela”, resume a autora, casada e com três filhos, Pierre, David e Wilhelm, com 24, 20 e 18 anos, respectivamente, na época da adoção de Katherine, de 3 anos (eles hoje têm 42, 38 e 36 anos). O casal Schurmann abandonou a rotina no começo na década de 1980 para dar a volta ao mundo a bordo de um veleiro ao lado dos três filhos. Depois de conhecer todos os continentes e entrar em contato com os mais variados povos e culturas, um encontro ocasional os levou a viver a maior aventura de suas vidas, com a adoção de uma sorridente menina de 3 anos.
No livro Pequeno Segredo, Heloisa revela pela primeira vez os detalhes de uma história que foi mantida em segredo no pequeno círculo familiar e divulgada somente anos mais tarde: a pequena Kat era soropositiva. “A chegada de Kat representou uma grande mudança em nossas vidas, foi um vento de ar fresco na vida de nossa família. Além de me fazer voltar a ser menina, ela representou também uma grande responsabilidade, pelas suas condições de saúde”, diz Heloisa.
A menina era filha de Robert, um velejador neozelandês e Jeanne, uma brasileira nascida no coração da Amazônia (os sobrenomes não foram divulgados). O que eles desconheciam era que, em razão de uma série de transfusões de sangue em decorrência de um acidente antes da gravidez, Jeanne havia contraído o vírus HIV, e o transmitido, sem saber, para o marido e a filha. A aids causou a morte de Jeanne e atacou a resistência de Robert que, fragilizado, procurou o casal em busca de uma nova família para a menina. Os Schurmann, que já haviam criado três filhos em um veleiro, aceitaram o desafio e adotaram a menina.
Heloisa compara o momento em que acolheu Kat aos preparativos de uma jornada incerta: “Estávamos prestes a embarcar numa viagem sem mapas ou cartas náuticas, onde a agulha da bússola não apontava para o Norte, mas girava sem controle. No entanto, quando o sol nasceu, tínhamos resolvido que iríamos assim mesmo.” Ela conta que juntos eles vivenciaram momentos de muita emoção e aprendizado em mais uma viagem ao redor do planeta. “Esta poderia ser uma história triste. Mas este não é um livro sobre morte e sim sobre a vida de uma menina iluminada e que continua iluminando a vida de muita gente.”
Peripécias
As peripécias ao lado dos novos pais, irmãos e amigos que conquistou ao longo do percurso foram descritas pela própria Kat em seus diários e usados no livro. Segundo Heloisa, mesmo sem entender muito bem o que se passava com seu corpo, ela enfrentou com bom humor os momentos mais difíceis. “Quando expliquei sobre sua doença, ela ficou assustada, mas aceitou. Essa era uma de suas características, ela era uma pequena menina grande”, afirma a mãe. Foi assim até 2006, quando, aos 13 anos, Kat morreu em decorrência de complicações da aids. Para lidar com a dor, Heloisa começou a esboçar o livro, buscando informações em relatos de familiares e nas anotações da própria Kat.
“Algumas vezes ela me mostrava o que anotava, mas só comecei a ler os diários três meses depois de ela ter partido”, revela a autora. “E, quando escrevi sobre o dia em que contei a ela de sua doença, decidi que mesclaria meus textos aos dela. Aquele foi um momento muito especial, de grande ternura entre nós: ficamos cúmplices de um segredo. E assim percebi que ela deveria contar esta história comigo.”