Zezé Leone virou capa de revistas, nome de hotel, de rua, locomotiva e cigarro (Divulgação)
O primeiro concurso de beleza do país completa 100 anos neste mês. A finalista, considerada a "Mais bela do Brasil", nasceu em Campinas, em 1902, e mudou-se para Santos aos três anos. Maria José Leone, conhecida como Zezé Leone, tinha 19 anos quando venceu o concurso em abril de 1923, promovido pela Revista da Semana e o jornal A Noite, duas das maiores potências editoriais da época. Zezé desbancou 319 mulheres que participaram da disputa, realizada no Rio de Janeiro, que à época era a capital do país.
Teve um porém: como reunir na capital federal tamanha quantidade de jovens beldades, junto com seus acompanhantes, ainda mais num Rio de Janeiro que fervilhava de gente em função da festa alusiva aos 100 anos da liberdade pátria? Diante da situação, os organizadores determinaram que o processo de escolha se daria através de provas fotográficas, que, afinal, havia sido a opção de quase todos os concursos promovidos nos mais variados municípios brasileiros. Tal escolha, além de não desmerecer a beleza em pessoa, isentava de risco o resultado do certame, uma vez que o trio de jurados era composto por renomados especialistas em arte, figuras altamente capacitadas em identificar possíveis alterações manipuladas nas imagens reveladas em papel.
Os jurados João Batista da Costa, pintor, professor e diretor da Escola Nacional de Belas Artes, o escultor José Otávio Correia Lima e o ilustrador especialista em anatomia humana Raul Pederneiras trabalharam exaustivamente por dias a fio, avaliando as fotos minuciosamente, cada ponto da fisionomia e graça das candidatas à mulher símbolo da beleza brasileira. Detalhes como a simetria dos olhos, formato do queixo e até mesmo a expressão diante das câmeras foram levadas em conta. Através deste critério, logo de partida, 270 candidatas à Rainha da Beleza foram descartadas em razão do material apresentado. Em muitas fotografias havia nítida adulteração, feita a partir de coloração artificial.
Zezé virou capa de revistas, nome de hotel, de rua, locomotiva e cigarro, foi imortalizada por poetas e pintores e transformada do dia para a noite num ídolo nacional. Fez cinema, publicidade de vários produtos, entre eles o fortificante Biotônico Fontoura e o pó de arroz Triam. Em 2017, o jornalista Sérgio Willians a homenageou com o romance ficcional “Sua Majestade, a Mais Bela”, misturando fatos reais e a sua criatividade, e também retratando a convivência com a família, amores, desejos, decepções e o destino. Zezé faleceu em 30 de novembro de 1965, em São Paulo.
Maria José Leone, conhecida como Zezé Leone, tinha 19 anos quando venceu o concurso em abril de 1923 (Divulgação)