Título paulista foi especial para o coordenador técnico André Heller, que iniciou o projeto como atleta do time
Medalha de ouro em Atenas-2004, André Heller assumiu desafio diferente quando veio jogar em Campinas (Vôlei Renata/Divulgação)
O inédito título paulista do Vôlei Renata, conquistado na última sexta-feira sobre Taubaté, representou também o primeiro grande troféu da carreira de dirigente do coordenador técnico e embaixador da equipe, André Heller. Campeão olímpico nos Jogos de Atenas, em 2004, Heller aportou em Campinas em 2010, ainda como jogador, mas quatro temporadas depois passou a atuar fora das quadras, ao lado de outra lenda do vôlei brasileiro, Mauricio Lima.Correio: Qual é a sensação de ver o trabalho coroado com o título paulista, ainda mais depois de ter deixado escapar o troféu no ano passado para o mesmo adversário?André Heller: É um sentimento pleno, mas não por questão de revanche, e sim porque engloba mais de uma década de um trabalho que vai muito além das quadras, com capacitação, experiência e conhecimento nas mais amplas áreas. Desde atletas e comissão técnica, passando por nossa treinadora mental, até gestores, embaixadores e patrocinadores. Nós somos privilegiados por contar com tantos bons profissionais escolhidos a dedo. Um título dessa magnitude, ainda mais em um cenário pandêmico, é a cereja do bolo e a contemplação de um projeto que acredita em um relacionamento profundo com o esporte.A conquista teve um sabor especial para você, que está desde o início do projeto do vôlei em Campinas e viveu todas as fases? Quando aceitei o convite para fazer parte do nascimento dessa equipe, era um desafio muito diferente do que eu estava habituado. A ideia era construir um projeto de vôlei muito amplo. Comecei capitaneando o time e agora, sob uma perspectiva de bastidor, atingimos um resultado incrível, assim como já havíamos alcançado êxito na área social. O Vôlei Renata vinha de grandes campanhas recentes, mas sempre batia na trave. Qual é a importância do trabalho a longo prazo do técnico argentino Horácio Dileo, que chegou em 2016 e está perto de completar 150 jogos à frente da equipe? Trata-se de um treinador muito capacitado tanto técnica quanto taticamente. Outro componente importante é que ele fez a opção de deixar a família na Argentina e ficar sem vê-la durante praticamente 10 meses para estar conosco nesse momento. É um profissional extremamente engajado, apaixonado pelo que faz e isso tem um significado muito grande. Além da paixão, também vem a capacidade de liderança, ingrediente indispensável para qualquer treinador. Não é normal encontrar um profissional tão completo para ocupar um papel de tamanha importância dentro de uma equipe esportiva. Quais foram as principais dificuldades e adaptações impostas pela pandemia e como foi superar mais esse desafio? Além do desempenho dentro das quadras, também sabíamos que teríamos que entregar um exemplo de disciplina, união e confiança em relação à Covid-19. Cumprimos à risca um protocolo bastante rígido, não só de testagem, mas de trabalho diário de uso de álcool em gel, máscara, tapete sanitizante e distanciamento social. Tudo foi muito estranho, tanto pelo início da temporada acontecer antes dos trabalhos físicos até os momentos de confraternização nas viagens, mas juntos conseguimos ressignificar esse cenário de doença e tristeza, transformando-o em um motivo para nos unir ainda mais e cuidar uns dos outros. Acredito que isso tenha enaltecido a nossa conquista, além de ter sido uma maneira de dar um exemplo esportivo para outros setores da sociedade. Projetando o futuro, a Superliga já começa na primeira semana de novembro. Quais as expectativas para a conquista de uma dobradinha?Estamos nos preparando com toda a energia, mas também com muita calma e lucidez. Além dos treinamentos e dos jogos, é importante que a gente trabalhe com o máximo de segurança possível, garantindo a saúde dos envolvidos.