No Dérbi realizado no dia 09 de fevereiro, a Macaca venceu no Majestoso por 2 a 0 (Marcos Ribolli-Pontepress)
Clássico com 209 partidas e palco de enredos que poderiam ser adaptados para um roteiro de cinema, o dérbi campineiro protagonizado entre Ponte Preta e Guarani se transformou em patrimônio imaterial da cidade de Campinas. A decisão foi emitida na última quinta-feira, dia 26 de junho, pelo Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas). A reunião que determinou a aprovação foi realizada no auditório do planetário do Parque Portugal.
O pontapé inicial foi dado a partir de um estudo feito por Marcela Bonetti, especialista cultural da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Campinas. A pesquisa reuniu entrevistas, depoimentos, documentos e referências bibliográficas, além de visitas técnicas aos dois clubes.
Dados e estatísticas mostram que o confronto vai além do futebol. Não há notícia de um clássico relevante no futebol brasileiro que não tenha conhecimento do resultado do seu primeiro jogo. O amistoso realizado no dia 24 de março de 1912, no campo de Santana, na Vila Industrial, até hoje não tem placar conhecido. Nas outras partidas em que o resultado foi apurado, o equilíbrio prevalece. O Guarani tem 71 vitórias contra 68 triunfos da Macaca, além de 69 empates. O Guarani fez 274 gols marcados, e a Ponte Preta tem 272 gols.
Algumas partidas entraram para a história. No dia 05 de junho de 1960, o Guarani goleou a rival por 6 a 0, o que não deixava de ser um troco pela goleada sofrida em pleno estádio Brinco de Ouro por 4 a 1 no dia 10 de agosto de 1958, véspera do aniversário da Ponte Preta. Os principais jogos históricos estavam por vir. No dia 03 de junho de 1979, um público de 38.948 torcedores presenciaram no estádio do Pacaembu a vitória do Guarani por 2 a 0, válido pelo Campeonato Paulista de 1978. O jogo foi transferido por decisão da Federação Paulista.
Na edição seguinte, Ponte Preta e Guarani protagonizaram as semifinais do torneio regional válido pelo ano de 1979. A Macaca levou a melhor. No dia 27 de janeiro de 1980, a Alvinegra venceu por 2 a 1 e, três dias depois, nova vitória pontepretana por 1 a 0 levou a Macaca às finais contra o Corinthians. Todos os gols da Ponte Preta foram anotados pelo atacante Osvaldo. Em 1981, novo encontro para decidir o primeiro turno do Campeonato Paulista. Com gols de Osvaldo, Serginho e Odirlei, a Ponte Preta venceu por 3 a 2 e classificouse às finais do Paulistão. Careca e Jorge Mendonça fizeram os gols bugrinos. O troco bugrino ocorreu em 2012. No dia 29 de abril de 2012, as duas equipes entraram em campo para a semifinal do Campeonato Paulista. A Alvinegra saiu na frente com gol de Caio. Ainda na etapa inicial, Fumagalli saiu por lesão e foi substituído por Medina, o herói do jogo, autor de dois gols. Fábio Bahia, que tinha feito o primeiro tento, ajudou a consolidar a vitória por 3 a 1.
A secretária Municipal de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, explicou que são estabelecidos critérios para que um evento ou um fenômeno cultural seja eleito como patrimônio imaterial. “Quando falamos de patrimônio, é sobre algo que pertence à coletividade. Por isso que ele é considerado um patrimônio. Patrimônio material é a arquitetura, é um prédio antigo. O patrimônio imaterial são as manifestações, as festividades, as celebrações e tudo aquilo que identifica a nossa cultura”, disse a secretária em entrevista à Rádio Brasil Campinas.
Para Caprioli, a decisão tomada pelo Condepacc é natural devido ao fato do Dérbi Campineiro reunir as características necessárias para ser apontado como patrimônio imaterial. “Nós nos identificamos com o time, cânticos, bandeiras e com as camisas. Isso é o imaterial. É uma forma de reconhecermos a nossa sociedade como ela existe. O dérbi passa a estar registrado num livro que chamamos de celebrações. O Dérbi é uma disputa para muito além do futebol. É uma celebração da nossa cidade”, explicou a secretária.
Dirigentes não esconderam a felicidade de verem o clássico em novo patamar na vida campineira. O presidente do Conselho de Administração do Guarani, Rômulo Amaro, celebrou o fato aprovado pelo poder público municipal. “Fico muito feliz em ver o Dérbi Campineiro reconhecido como patrimônio imaterial de Campinas. Esse reconhecimento mostra que o futebol é uma parte muito importante da cultura da cidade. Para o Guarani e para mim, como presidente, é uma honra fazer parte dessa história. Como torcedor, vivi muitos capítulos da rivalidade pelo lado verde e tenho certeza que esse clássico é um dos mais importantes do futebol brasileiro”, disse o dirigente bugrino.
Primeiro vice-presidente da Ponte Preta, Marcos Garcia Costa, é uma testemunha de muitos dérbis realizados nos últimos séculos 20 e 21. Para ele, a nova nomenclatura é um processo natural vivido por esta rivalidade centenária. “São duas torcidas divididas em uma cidade e, sempre que se encontram, dão espetáculo e chamam a atenção em Campinas e em todo o estado. Muitos torcedores no Brasil perguntam sobre o Dérbi”, disse o dirigente. Para ele, o foco é apurar as coisas positivas sobre o clássico. “Dérbi não é guerra. É uma partida de futebol. O que fica ruim é essa questão da violência. Mas é um jogo que eu aguardo durante o ano”, completou o dirigente pontepretano.
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