O velho boteco virou um ponto elegante que já recebeu apresentadores de TV, jogadores de futebol e políticos
Edu, jogador do Santos nos tempos de Pelé, está entre os visitantes ilustres
O Facca Bar nasceu no finalzinho da década de 50. Quatro velhos amigos - funcionários do Bar Ideal, ali na esquina da Barão de Jaguara com a Conceição - resolveram pedir as contas e abrir o próprio estabelecimento. Escolheram um imóvel pertinho, onde décadas antes funcionara o badalado Restaurante Lo Shiavo. O lancheiro Antônio Facca Filho e o tirador de chope Roberto Geonfrancisco (o Mossoró) juntaram-se aos balconistas Antônio Gisolfi (Totta) e Francisco Pinheiro de Souza (Chico). E o quarteto levou para o boteco clientes antigos, que tinham encrencado com o dono do Ideal. Foto: Janaína Ribeiro/Especial para AAN Decoração dos tempos atuais agrada freguesia Os amigos colocaram o sobrenome do lancheiro famoso no bar novinho, oficialmente inaugurado com a bênção do padre Francisco de Assis Almeida em meados dos anos 60. O pedaço virou parada obrigatória para marmanjos passeando no Centro. Certo, certo. Era um lugar modesto. "Sujinho" mesmo, que despertava paixão em quem curtia uns pileques e não dava bola para luxo. Aquelas coisas: boemia, cerveja, prosa, gargalhadas. Mulher não entrava. Criança também não. Os campineiros da antiga se divertem falando do ambiente impagável. O lancheiro famoso, lembram, era "simplorião", grosseiro, e não pensava duas vezes antes de mandar cliente chato plantar batatas. O bacana era o clima despojado, abençoado com muita cerveja e sanduíche de aliche. Foto: Reprodução/Divulgação Edu, jogador do Santos nos tempos de Pelé, está entre os visitantes ilustres Mas a casa fechou as portas em 1984. Houve, sim, marcação cerrada da turma da Vigilância Sanitária, que não gostava nem um pouco daquela onda de boteco bagunçado. Na época, o lancheiro Facca já havia partido deste mundo. O Mossoró, no caso, era o administrador do pedaço. Mas a tristeza do fim do bar lhe causou até um enfarte, três meses depois. Enfim, a porta baixou e frustrou uma geração de bebedores inveterados. Nos anos seguintes, funcionou no local um restaurante self-service. E, em 2006, o Facca renasceu. Os novos proprietários entraram em acordo com a família dos fundadores e obtiveram o direito de levantar as portas do bar com o velho nome. E o reduto tornou-se, nesses quase dez anos, uma referência gastronômica do Centro, com chope dos bons, cumbuca de feijoada, lanchinhos sagrados e carnes exóticas. O gerente, Antônio Vicente dos Santos, tem 43 anos. Ele não é contemporâneo dos fundadores e diverte-se ao ouvir os casos contados pelo pessoal da velha guarda que entra pela porta. O lance é que o homem se apaixonou tanto pelo bar que ele mesmo se dedica a pesquisar a história do estabelecimento. Vai atrás de fotos, textos da época e depoimentos. Confessa que usa, no cargo, uma estratégia comercial do quarteto pioneiro: os funcionários formam aquele grupo fechado, unido, que conhece a clientela e trabalha para que o Facca Bar tenha o nome forte de sempre. Ah, claro, a estrutura mudou. O bar passou por várias reformas, adequou-se às exigências severas da Vigilância Sanitária. Nada restou do mobiliário original. Prateleiras, azulejos na parede, cadeiras e mesinhas de madeira, salames e réstias de alho pendurados garantem a atmosfera nostálgica. O espaço é aconchegante, elogiado principalmente pelo pessoal na faixa dos 40 anos. Mas é tudo novinho em folha. Foto: Reprodução/Janaína Ribeiro/ Especial para AAN A grande sacada dos proprietários, no caso, foi resgatar a cozinha tradicional. O lanche de aliche continua sendo o carro-chefe da casa, mas o cardápio é diversificado e o serviço, de primeira. Não é à toa que o Facca já ganhou concursos, ano após ano, que o consideraram a melhor cozinha da cidade. O velho boteco virou ponto elegante. Os famosos dão o ar da graça por ali. Apresentadores de TV, jogadores de futebol, empresários, políticos de tudo quanto é partido. Como no começo - e lá se vai mais de meio século -, o Facca Bar conquista quem chega.