Investigado novo vírus transmitido pelo Aedes

O Ministério da Saúde investiga a chegada de um novo vírus ao Brasil, similar à dengue e à febre chikungunya, que já teve casos suspeitos relatados em pelo menos seis Estados, todos no Nordeste. O chamado zika vírus (ZIKV) também é transmitido pelo Aedes aegypti e outros tipos de mosquito da mesma família, e provoca sintomas parecidos com os da dengue, mas com menor gravidade. Não existe vacina contra a doença, que é de notificação compulsória assim como a dengue. Segundo o Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) de Campinas, a cidade não tem nenhum registro do novo vírus. Investigação A investigação foi iniciada neste ano após uma série de cidades do Nordeste notificarem as vigilâncias epidemiológicas estaduais sobre a ocorrência de uma doença em que os pacientes apresentavam manchas ou erupções na pele, sem definição de diagnóstico. O vírus foi detectado pelos pesquisadores do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (ICS/UFBA) e apresentado há duas semanas. A hipótese é que o zika possa ter sido introduzido no Brasil durante a realização da Copa do Mundo, que atraiu milhares de turistas. De acordo com o médico epidemiologista e coordenador técnico do Programa Municipal de Controle da Dengue e Chikungunya do Devisa Campinas, André Ribas Freitas, o zika não é tão grave quanto a dengue ou a chikungunya, e mesmo com poucas informações científicas sobre o vírus, não há registro de mortes. “É um vírus emergente, o que faz com que não tenhamos muitas informações. A manifestação é um quadro febril agudo, dor no corpo, e erupção cutânea acompanhada de coceira intensa”, explicou o especialista. Conjuntivite Além dos sintomas, o paciente pode apresentar sinais de conjuntivite. O vírus é transmitido pela picada dos mosquitos Aedes aegypti, Aedes albopictus e outros tipos de Aedes, mas nunca havia sido detectado antes no Brasil ou na América Latina. “Até 2013, havia 43 casos humanos com o registro da doença no mundo, pois até então havia manifestação silvestre. A capacidade de epidemia do zika em área urbana se confirmou entre 2013 e 2014, na Polinésia Francesa. Há relatos de que por lá pacientes tiveram quadro de encefalite (infecção do cérebro desencadeada geralmente por um vírus)”, explicou Ribas. Segundo o epidemiologista, será importante analisar como se darão as ocorrências do vírus e se ele manterá o mesmo padrão de gravidade registrado na Polinésia. “Se confirmado pelo Ministério da Saúde, no Brasil será mais um vírus transmitidos pelo Aedes. E isso é um problema, pois a quantidade de epidemias (dengue, chikungunya e zika) vai dificultar o manejo clínico”, apontou. Laudo O período de incubação varia entre 3 e 12 dias após o contágio. Em alguns dias, o organismo se encarrega de combater o vírus, que desaparece sem deixar sequelas. De acordo com o Ministério da Saúde, a confirmação da circulação do zika vírus no Brasil só ocorrerá após o laudo do laboratório de referência confirmar o resultado encontrado pelo ICS/UFBA. Conforme orientações ministério, deve-se evitar o uso de ácido acetilsalicílico e drogas anti-inflamatórias devido ao risco aumentado de complicações hemorrágicas, como ocorre com a dengue. Camaçari, na Bahia, foi um dos municípios que enviaram amostras para a análise do ministério. Desde janeiro foram notificados 2,3 mil casos em que o paciente apresentava exantema. De acordo com André Ribas, alguns casos foram registrados no Piauí, Pernambuco e em municípios baianos. O vírus foi isolado, pela primeira vez, em 1947, num macaco rhesus utilizado para pesquisas na Floresta de Zika, em Uganda, no continente africano. Aproximadamente 20 anos depois, ele foi isolado em seres humanos na Nigéria. Dali, ele se espalhou por diversas regiões da África e da Ásia e alcançou a Oceania.