É inevitável. Depois de assistir a partidas memoráveis na semifinal da Liga dos Campeões, o torcedor brasileiro compara o que viu no Anfield e na Johan Cruyff Arena com partidas do Brasileirão, Libertadores e outras competições realizadas no nosso continente. Em muitos aspectos, essa comparação não faz sentido. Além de muita emoção e inúmeros lances perigosos, Liverpool x Barcelona e Ajax x Tottenham tiveram nove gols. Foram três a mais do que os seis anotados nas quatro partidas que envolveram clubes brasileiros na rodada de quarta-feira da Copa Libertadores. Os jogos quase sempre são muito melhores e é natural que assim seja. Não são apenas os melhores jogadores brasileiros que atuam nas grandes ligas europeias. Os melhores do mundo todo estão lá, sob o comando dos melhores treinadores e sob a gestão de clubes e ligas extremamente profissionais e lucrativos. Anormal seria se, com tudo isso, o futebol de lá não fosse muito melhor do que o sul-americano, com suas limitações financeiras e ineficientes modelos de gestão. Essa diferença já foi muito menor e por isso tivemos tantos clubes sul-americanos campeões mundiais. A Europa sempre pagou melhor, mas até a abertura do mercado para estrangeiros havia um equilíbrio de forças. Na Europa, o processo de profissionalização do futebol está em um estágio bem mais avançado. E isso fez com que as principais competições se transformassem em uma espécie de NBA do futebol. Os melhores estão lá, juntos. Da mesma forma que nunca esperamos ter em um jogo da NBB o que vemos em um Golden State Warriors x Houston Rockets, não devemos cobrar nossos clubes para que proporcionem espetáculos parecidos com os melhores da Europa. Também é preciso levar em consideração o clima. Ingleses, espanhóis e holandeses não conseguiriam jogar com toda aquela intensidade em um país tropical. Também é fácil notar que não podemos ter a pretensão de nos compararmos à elite do futebol mundial quando olhamos para as divisões inferiores dos principais campeonatos. Na última rodada da League One, a terceira divisão da Inglaterra, o Bradford City (lanterna, rebaixado e com um saldo negativo de 28 gols) jogou em casa contra o Wimbledon. O público foi de 17.817 torcedores. É um outro mundo. O fato de o Brasil não poder se comparar em quase nenhum aspecto com o futebol europeu não significa que não se possa fazer nada para melhorar nosso jogo e nossas competições. Há muito o que fazer e o que se discutir, mas isso fica para a coluna de amanhã.