EDITORIAL

Na história das pandemias, os erros se repetem

A negação é um automatismo comum diante do desconhecido, sem controle sobre uma nova doença, as pessoas se veem impotentes

Correio Popular
28/04/2021 às 15:26.
Atualizado em 21/03/2022 às 21:34

Da peste negra à covid, quatro erros se repetem. São eles a culpabilização, negação, curas milagrosas e desinformação. Segundo pesquisa do historiador Luiz Antonio Teixeira, da Fiocruz, são características presentes em todas as grandes pandemias.

A primeira é a culpabilização. Parece mais fácil lidar com uma situação difícil quando há um culpado. Na peste negra que dizimou metade da população da Europa, na Idade Média, os judeus foram considerados culpados. O rumor surgiu porque esse povo foi pouco atingido pela doença. Mas havia uma razão: por conta da Páscoa, os religiosos não podiam armazenar grãos em suas casas, o que reduzia o número de ratos - transmissores da bactéria Yersinia pestis, causadora da doença. Em consequência, os judeus foram perseguidos. Portanto, não é de se estranhar que o coronavírus seja chamado por muitos de "vírus chinês".

O segundo erro é a negação. Trata-se de outro automatismo humano comum diante do desconhecido. Sem controle sobre uma nova doença, as pessoas se veem impotentes. Com isso, surge um terreno fértil para teorias que tentam desconstruir a seriedade das pandemias e suas medidas de prevenção.

O terceiro erro é a cura milagrosa. O medo de ser contaminado faz com que circulem antídotos sem eficácia. Durante a peste negra, pensava-se que a doença era causada por um estado de infelicidade. Então, a saída era promover grandes festividades. Resultado: milhões de mortos com as aglomerações.

Para combater a gripe espanhola, vendeu-se a ideia de que uma mistura de álcool, limão e mel seria suficiente. Algumas correntes afirmam que a caipirinha nasceu nesse período, mas obviamente não serviu para eliminar o vírus. Cem anos depois, nada mudou. Receita-se cloroquina, ivermectina e outras drogas inúteis contra a covid.

Por fim, a desinformação. Tal como na peste negra e gripe espanhola, embora em épocas totalmente diferentes, a essência é a mesma. Disseminam-se fake news como a campanha antivacina, que fez ressurgir o sarampo, doença que já havia sido considerada erradicada.

Olhando a história das pandemias, percebe-se uma repetição de padrão. O que reforça a necessidade de se valorizar a boa informação, os dados científicos e conscientizar a população de que o combate a um patógeno não pode ser politizado. Somente a verdade deve prevalecer sobre todas as crendices, ideologias ou sectarismos.

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