JOGO RÁPIDO

O que todo mundo faz. O tempo todo

Coluna publicada na edição de 4/12/18 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
04/12/2018 às 00:01.
Atualizado em 05/04/2022 às 22:48

O Corinthians abriu a semana anunciando a demissão de Jair Ventura, treinador que teve um ano muito difícil, com trabalhos ruins na Vila Belmiro e no Parque São Jorge. A demissão de Jair Ventura já era mais do que esperada porque o Corinthians negocia há semanas com Fábio Carille, campeão brasileiro de 2017 e atual bicampeão paulista. O treinador deixou o clube no meio do ano para ganhar “dois caminhões de dinheiro” por mês na Arábia Saudita, mas não está satisfeito e rapidamente tratou de negociar seu retorno ao Brasil, mais precisamente ao clube no qual ganhou títulos e projeção. Li muitas críticas ao comportamento de Carille, que negociou abertamente com o Corinthians enquanto seu antecessor estava no cargo, trabalhando com a expectativa de conseguir uma oportunidade de permanecer no clube em 2019. Nada é mais natural no mundo do futebol do que um treinador conversar com um clube enquanto um colega está no cargo. Não é agradável ou ético, mas, convenhamos, acontece com enorme frequência, principalmente em um futebol que tem média de uma demissão de treinador por rodada. Acontece muito, durante toda a temporada. Mas o fato de ser normal ou rotineiro não significa que essa deva ser a posição de um profissional, mesmo com a consciência de que em poucas semanas alguém possa fazer o mesmo com ele. Não condeno a postura de Carille, mas admiro os — poucos — treinadores que, em qualquer situação, não aceitam conversar com um clube que tenha técnico empregado. Carille sabe que não iria mudar o mundo se tivesse adotado uma postura, digamos, leal a Jair Ventura. Se ele não abrisse negociações com o Corinthians, outros tantos o fariam. Imediatamente, bem sabemos. Ainda assim, fico com aqueles que, também sabendo que não vão mudar o mundo, se comportam de forma mais profissional ou ética. Fazer o certo, em qualquer circunstância, pode não mudar o comportamento dos outros, mas fará do mundo um lugar um pouquinho melhor. O correto é o correto ainda que ninguém mais o faça. E o errado jamais deixará de ser errado só porque todos o praticam. Carille logo estará de volta ao Parque São Jorge e para torcida, clube e imprensa, o mais importante será saber se ele será capaz de fazer o Corinthians brigar pelo tricampeonato paulista. Se der sinais que não vai conseguir, pode ser que algum outro técnico atenda um telefonema do Corinthians. É o que todo mundo faz. O tempo todo.

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