EDITORIAL

A linha tênue entre egoísmo e altruísmo

Da Redação
02/06/2024 às 15:45.
Atualizado em 02/06/2024 às 15:46
 (Jcomp/Freepik)

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O dilema entre altruísmo e egoísmo é uma das questões mais antigas e persistentes na reflexão filosófica. Para compreender a complexidade desse embate, é pertinente recorrer às análises de renomados pensadores, como Immanuel Kant e Friedrich Nietzsche. Kant, em sua obra monumental "Fundamentação da Metafísica dos Costumes", advoga pelo imperativo categórico, um princípio ético que postula a ação baseada no dever moral desvinculado de interesses egoístas. Para Kant, a verdadeira moralidade reside na capacidade do ser humano de agir de acordo com princípios universais, independentemente das consequências ou benefícios pessoais. Contrapondo-se a essa visão, Nietzsche, em suas obras "Assim Falou Zaratustra" e "Além do Bem e do Mal", lança um olhar crítico sobre a moralidade tradicional, argumentando que o altruísmo pode ser uma forma sutil de egoísmo. Para o filósofo alemão, a moralidade herdada do cristianismo e do humanismo enfraquece a vitalidade humana ao promover a supressão dos instintos e a submissão a valores coletivos.

No entanto, o debate entre altruísmo e egoísmo não se limita ao âmbito filosófico. Estudos contemporâneos, como os de Richard Dawkins em "O Gene Egoísta", lançam luz sobre a perspectiva evolucionista desses conceitos. Dawkins argumenta que, do ponto de vista da seleção natural, o comportamento aparentemente altruísta pode ser entendido como uma estratégia genética para a sobrevivência e reprodução do próprio gene.

Nessa perspectiva, o altruísmo pode ser interpretado como uma forma indireta de egoísmo, onde a ajuda aos outros é motivada pelo benefício genético que isso pode gerar. Portanto, é evidente que esse embate transcende as dicotomias simplistas e exige uma abordagem multifacetada. Enquanto Kant defende a primazia do dever moral, Nietzsche desafia as estruturas tradicionais de valores em busca de uma ética da autenticidade e da afirmativa da vida. Por outro lado, a perspectiva evolucionista de Dawkins lança luz sobre as origens biológicas do comportamento social humano.

A dicotomia entre altruísmo e egoísmo não representa necessariamente opostos irreconciliáveis, mas sim aspectos complementares de uma realidade multifacetada. Em última análise, o desafio ético reside em encontrar um equilíbrio entre o cuidado com o outro e a afirmação do eu, reconhecendo a interdependência e a interconexão que permeiam a teia da existência humana. Bom domingo!

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