A equipe de reportagem do Correio Popular teve acesso ao interior do canteiro de obras ontem e acompanhou o progresso dos trabalhos de restauração (Kamá Ribeiro)
Refletir sobre os 116 anos de existência do Mercado Municipal de Campinas, carinhosamente conhecido como Mercadão, é mergulhar em uma história rica, permeada por transformações e, agora, pela transição para uma nova era. O imponente edifício, testemunha do tempo e guardião de memórias, está passando por sua mais notável intervenção desde sua inauguração. A reforma em curso não é apenas uma simples renovação estrutural; é um testemunho do compromisso atual das lideranças políticas e gestores municipais com a preservação do patrimônio histórico. Em contraponto a gestões passadas, que lamentavelmente optaram por ignorar ou até mesmo destruir parte da história da cidade, esta abordagem demonstra uma valiosa aprendizagem com os erros do passado.
Ao preservar as características arquitetônicas originais, tombadas pelo patrimônio histórico, o Mercadão será transformado em um moderno centro comercial. Esta reforma não apenas revitaliza um espaço físico, mas também fortalece a identidade cultural e histórica de Campinas. Destaca-se, entre as novidades, a inclusão de um mezanino que abrigará lanchonetes, com o tradicional sanduíche de mortadela no cardápio, uma adição que harmoniza o antigo com o contemporâneo, respeitando a estética mourisca concebida pelo renomado arquiteto Ramos de Azevedo.
Ao cuidar do Mercadão e de outros prédios históricos, como o Prédio do Relógio, estamos não apenas garantindo a continuidade de nossa herança cultural, mas também transmitindo lições importantes sobre o respeito ao passado na construção do futuro. Tudo isso para que não se repitam as escolhas equivocadas pretéritas que varreram para sempre da memória cultural e histórica da cidade monumentos como a Igreja do Rosário, o Teatro Municipal Carlos Gomes e o Lago dos Cisnes, que era uma jóia da coroa campineira, substituído pelo melancólico Terminal Central do Viaduto Cury.
A reforma do Mercadão é, portanto, um exemplo a ser seguido, não apenas em Campinas, mas em todo o país. É um lembrete eloquente de que o progresso não precisa significar a perda irreparável de nossa história e identidade. Pelo contrário, pode ser uma oportunidade para honrar o passado enquanto avançamos rumo a um futuro mais próspero e culturalmente enriquecido. Que este marco de 116 anos seja celebrado não apenas como uma ocasião festiva, mas como um compromisso renovado com a preservação e valorização de nossas raízes históricas.