Maradona foi internado às pressas no início da semana passada e submetido a uma cirurgia no cérebro. Horas depois já queria deixar o hospital em Buenos Aires e os médicos tiveram que sedá-lo para impedir que realizasse seu desejo à revelia. Indiscutivelmente necessária, a decisão dos médicos pode parecer rude. Mas não tenho dúvidas de que a saúde do craque seria muito melhor se as pessoas em seu entorno ao menos de vez em quando agissem com o rigor dos médicos e dissessem a Maradona o que ele realmente precisa fazer. Com apenas 60 anos, o craque argentino aparenta ter 120. Os sinais de que tem inúmeros problemas saltam aos olhos. Nas últimas décadas, por diversas vezes Maradona apareceu em público com o olhar perdido, incapaz de conectar as palavras e com dificuldades de se levantar ou caminhar. Ainda assim, mesmo em períodos de agravamento de seus problemas de saúde, Maradona é convidado para participar de eventos ou trabalhar como treinador. É difícil acreditar, mas no momento ele comanda o Gimnasia y Esgrima, da primeira divisão argentina. Dias antes de ser internado, recebeu do clube uma homenagem por seu aniversário. A imagem foi constrangedora porque Diego parecia não saber onde estava. Já li que alguns familiares lutam com todas as forças para que Maradona se afaste do álcool e de remédios dos quais abusa, ao ponto de colocar sua vida permanentemente em risco. Mas muitos que fazem parte do seu dia a dia o tratam como se fosse uma pessoa saudável. Provavelmente fazem isso por interesses pessoais, o que só aumenta a crueldade. A internet tem muitos vídeos constrangedores do astro. Em um deles, sua calça cai enquanto dança em uma reunião de amigos ou familiares. Notem que alguém muito próximo a ele não apenas filmou a cena, como a repassou adiante. Para o mundo ver. Não se trata apenas de um desrespeito à imagem de um dos grandes jogadores da história do futebol. É um desrespeito a uma pessoa que tem enorme dificuldade para cuidar de sua saúde. As pessoas próximas, que deveriam ajudá-lo, cometem o grave erro de agir como se Maradona tivesse uma vida normal. Fingem não ver que ele não consegue andar e falar. Fingem não ver nenhum problema na notória dificuldade de caminhar. Fingem não ver que ele está dopado, doente. Não tiro de Maradona a maior responsabilidade por tudo isso. Quem procura esse caminho insistentemente é o próprio ídolo argentino. Mas quando chegamos a esse ponto gravíssimo, em que ele não sabe onde está, as pessoas próximas deveriam agir com o rigor dos médicos e não com a indiferença de quem quer apenas tirar alguma vantagem por estar perto de uma pessoa famosa. Carlo Carcani é coordenador de esportes do Grupo RAC. E-mail: [email protected]