CARLO CARCANI

Sobre confiança e imprudência

Carlo Carcani
25/02/2014 às 22:42.
Atualizado em 24/04/2022 às 16:48

Ao chamar Fred, Jô e Jefferson no início da semana, Felipão confirmou que não pensa em fazer experiências de impacto na Seleção Brasileira a poucos meses da Copa. Como já sabe o que espera das peças que foram bem na Copa das Confederações, poderia utilizar o amistoso contra a África do Sul para novas observações. Seria uma informação útil caso Fred volte a sofrer uma lesão ou não consiga entrar em forma no Carioca e no início do Brasileirão.Mas Felipão não pensa assim. Dá claros sinais de que confia plenamente em Julio Cesar e também aposta todas suas fichas em Fred, o cara que resolveu seus problemas nos jogos mais importantes do título de 2013. Pretende manter o "grupo fechado", dando a todos os que são regularmente convocados a certeza de que estarão entre os 23. Os que estão fora podem fazer chover que não serão chamados. Os que fazem parte da família Scolari podem ficar nove ou dez meses sem jogar que ainda assim terão a chance de disputar o Mundial.A ideia de unir o grupo não é ruim. Deu certo com Felipão em outros Mundiais. Em 2002, deixou Romário fora, apesar do enorme clamor popular. À frente de Portugal, barrou outra estrela de difícil trato, o goleiro Vitor Baía. Nesses dois casos, Felipão fechou as portas para dois astros com histórico de indisciplina, mas tinha outras ótimas opções para substituí-los.Agora é um pouco diferente. Não se trata de deixar alguém de fora, mas sim de manter dois jogadores sem ritmo de jogo não apenas no grupo, mas possivelmente no time titular. Uma Copa tem no máximo sete jogos e a partir do quarto qualquer falha é irreversível. Não será muito arriscado enfrentar Espanha ou Holanda nas oitavas de final com um centroavante e/ou um goleiro longe da forma ideal? Não seria prudente ao menos usar esse amistoso de março para testar alternativas?Confiança é importante no esporte, mas tenho a impressão de que no caso de Felipão a dose é excessiva. Em mais de uma oportunidade, já afirmou com todas as letras que o Brasil será campeão. Mesmo em casa, não faz sentido afirmar isso antes de uma Copa com pelo menos mais três grandes favoritos ao título e outros três ou quatro candidatos que não podem ser desprezados.É compreensível que o treinador acredite na força de um time forte como o do Brasil, mas não há nenhum motivo para que ele confie plenamente em Julio e Fred. Os dois são grandes jogadores, experientes, e foram decisivos na Copa das Confederações. Mas, desde então, jogaram muito pouco. Julio não conseguiu ser titular em uma equipe da segunda divisão inglesa, foi para o Toronto e logo na estreia já levou três gols, dois deles estranhos. Fred tem sido vaiado pela torcida do Flu no Carioca. A enorme confiança de Felipão pode transformá-lo em um treinador imprudente.

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