A porção de tilápia é nova no cardápio, mas chegou com status de protagonista (Fábio Melo/AAN)
Conhecer um bom botequim de tradições marcantes em plena segundona nervosa é como beber o primeiro chope depois da Quaresma – não que eu tenha feito tal promessa alguma vez, pois não sou crente nem capaz, mas dizem que a barra é pesada. A noite se colocava quando cheguei ao Bar do Braz, um belíssimo exemplar fundado em 1977, cujo balcão funciona como ímã, conforme frisou Jô, botequeira gente fina que me acompanhou até a saideira. Foto: Fábio Melo/AAN Também tem salgados, torresmo, porpeta, porções e lanches Sentada nas banquetas, os cotovelos correm o risco de ficar ralados, só não desidratados, pois a cerveja vem “canela de pedreiro”. Passaria horas a fio conversando com Braz, mineiro da pequena Jureira (distrito de Monte Belo), bom de prosa e com muita história para contar. Junto dos amigos Celso, Pedrinho e Beiçola, ele criou, nos anos 70, o time de futebol Cidade Jardim, representante do bairro onde está até hoje. Nas paredes, o escrete de uniforme azul – inspirado no seu Cruzeiro – divide espaço com as promoções de cerveja e as fotos de antigos frequentadores, como os violeiros Mauro e Juarez, que aparecem às vezes para alegria dos amantes da moda de viola. Não bastassem os retratos dos tempos de amistosos, Braz tem um álbum recheado de preciosidades, algumas ainda em preto e branco. Os cabelos hoje estão grisalhos e a habilidade de zagueiro certamente não é mais a mesma, mas ele só engrandeceu como dono de boteco, missão que agora divide com os filhos Rodrigo e Danilo, tão simpáticos como o patriarca. Isso porque a família ainda é o braço motor por lá. Rodrigo assumiu a cozinha, mas o temperinho apurado vem das mãos da mãe, Vanda. Danilo tem outro trabalho, mas sempre passa à noite para fazer a socialização. E Braz sustenta os pilares. Esses alicerces começaram a ser firmados aos 14 anos, quando foi garçom do Bar Magia Chic, em Muzambinho, antes de atravessar a fronteira, em 1967. Em Campinas, labutou no extinto Bar e Café do Povo, na esquina da Barão de Jaguara com a General Osório, frequentado por Dicá, Nelsinho Baptista, Alan e outros jogadores da Macaca que o tornaram pontepretano. Braz abre a casa às 10h e fica até o último bêbado, ou cliente. “Se o pessoal não for embora, começo a beber com eles”, avisa. Isso até a patroa gritar “Brazzzilll...” Aí complicou. O Bar do Braz está entre os melhores que conheci este ano. Afinal, toda embarcação precisa de um grande comandante. BAR DO BRAZ Rua Itapecerica da Serra, 1.445, Cidade Jardim, Campinas, f. (19) 3269-1672 e 3229-6958. Aberto de segunda-feira a sábado, a partir das 10h.