Winnie Harlow, 24 anos, a primeira top com vitiligo a fazer campanhas para grifes de luxo (Pinterest)
Elas são jovens, bonitas, de bem com a vida e têm vitiligo. A doença de pele provoca perda de pigmentação em algumas partes do corpo, podendo atingir regiões grandes ou pequenas. Um dos casos mais conhecidos é o da modelo canadense Winnie Harlow, de 24 anos. Ela se tornou a primeira top com vitiligo a fazer campanhas para grifes de luxo e aceita, com orgulho, suas manchas. “Não sofro de vitiligo. Sou Winnie, modelo, e por acaso tenho vitiligo. Parem de por esses títulos em mim”, desabafou aos seus mais de 4 milhões de seguidores. Atitudes como a de Winnie e de várias outras modelos e influenciadores digitais que também divulgam ensaios e o seu dia a dia nas redes sociais, ajudam a dissipar a nuvem de preconceitos e desinformação sobre a doença, que afeta cerca de 1% da população mundial e 0,5% da brasileira. “O vitiligo é uma condição dermatológica em que se observam manchas brancas bem delimitadas localizadas nas mais variadas partes do corpo. Mais comumente, surgem no dorso das mãos e dedos, nos pés, nas axilas, punhos, também nas pálpebras, mama e região genital. Em alguns casos, podem ser extensas em grandes áreas da superfície corpórea”, explica a dermatologista chefe do serviço de Dermatologia do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (HC Unicamp), Renata Magalhães, que acrescenta: “É uma doença de causa desconhecida, provavelmente autoimune, em que as células que produzem a melanina, o pigmento que dá a cor da pele, param de funcionar. Há uma predisposição genética, embora muitos pacientes nem tenham casos na família, e fatores ambientais como estresse emocional e traumas sobre a pele podem desencadear as lesões. Ansiedade e depressão também são mais frequentes em pacientes que convivem com o vitiligo”. Segundo a profissional, normalmente as lesões aparecem ao longo da vida, podendo iniciar-se em qualquer idade. “Crianças de menos de cinco anos podem apresentar vitiligo também”, completa Renata. Tratamentos Com relação aos tratamentos, tudo vai depender da idade, do local e da forma clínica da doença. “Tratamento tópico com corticoide em creme ou pomada, ou imunomoduladores tópicos podem ser utilizados para lesões localizadas. Fototerapia em cabine ou banho de sol com substância fotossensibilizante costuma ser a primeira linha para formas extensas. Corticoides orais ou outros imunossupressores podem ser necessários para formas rapidamente progressivas. Lesões segmentares, estáveis, antigas podem se beneficiar de tratamento cirúrgico, com microimplantes de pele do próprio paciente onde há o pigmento, raspado de pele de áreas com melanócitos ou células cultivadas em laboratório”, comenta a dermatologista, que destaca que o objetivo do tratamento é parar a progressão da doença e tentar repigmentar ao máximo a área despigmentada. Quanto à prevenção, não há maneiras conhecidas ou cientificadas comprovadas que ajudem a evitar o surgimento do vitiligo. Porém, pacientes que têm tendência ou já sofrem do problema devem evitar fatores que possam acelerar o aparecimento de novas lesões ou acentuar as já existentes, como a exposição solar prolongada e sem proteção e o uso de roupas apertadas que provoquem atrito ou pressão sobre a pele. Como na maioria dos casos a doença causa impacto na qualidade de vida e na autoestima do paciente, recomenda-se também o acompanhamento psicológico, para prevenir o aparecimento de novas lesões e garantir efeitos positivos nos resultados do tratamento. “O acompanhamento psicológico ajuda a melhorar a maneira de encarar o problema, a lidar com a situação, combater sintomas de ansiedade, que são fatores que por sua vez agravam e são agravados pela doença”, diz Renata. QUEM TEM? Primeiras manchas aparecem após perda do irmão Um exemplo de garra e superação da doença é da digital influencer Sophia Alckmin, filha do político Geraldo Alckmin, de 38 anos. A blogueira resolveu seguir os passos da modelo Winnie Harlow e revelou, em setembro de 2017, que também sofria de vitiligo em seu Instagram, hoje com mais de 400 mil seguidores. Na época, a doença apareceu nas mãos. Na página, Sophia faz um relato sincero que o aparecimento das primeiras manchinhas coincidiu com a morte do seu irmão caçula, Thomaz, em um acidente de helicóptero em abril de 2015, aos 31 anos. “Eu tenho vitiligo, descobri (ou apareceu) uns 2 anos atrás, depois da morte do meu irmão Thomaz em um acidente de helicóptero. Decidi começar um tratamento para ao menos tentar estacionar o vitiligo. Passei uns 2 anos com ele só nas mãos, mas de alguns meses pra cá ele aumentou bem. Algumas das manchinhas já viraram parte de mim, vejo como se fosse uma tatuagem, gosto delas. Mas confesso que no rosto, especificamente as asas, me incomodam bastante, até porque, além do vitiligo, ainda tenho melasma. Ainda não tenho novidades do tratamento, mas prometo que se der certo eu compartilho todos os detalhes aqui!", escreveu. Seus seguidores elogiaram a sua postura de expor a doença e, nos comentários, também compartilham suas próprias experiências. Fascinante e original A modelo canadense Chantelle Brown-Young, mais conhecida como Winnie Harlow, de 24 anos, cada vez mais conquista o mundo da moda com sua atitude. Em 2014, foi descoberta no reality show America's Next Top Model, e desde então ganha destaque e faz parte do casting e editoriais de grandes grifes, como Diesel e Dior. Em meio aos trabalhos no mundo fashion, conheceu e tornou-se amiga da top Bella Hadid. Mas Winnie conta que nem sempre foi fácil e já sofreu muito preconceito e apelidos maldosos como “zebra” e “vaca”, principalmente na infância. Além disso, quando passava pela rua, os olhares estanhos também a deixavam constrangida. Com o tempo, aprendeu a superar os obstáculos e a lidar com a autoaceitação. Além da beleza e estilo, Winnie é vista no mundo da moda como peça-única, fascinante e original. Afinal, é a primeira modelo da história com vitiligo. Com mais de 4 milhões de seguidores no Instagram, Winnie já escreveu legendas como: "Eu poderia tirar toda a pele marrom e ser branca. Mas eu não posso tirar toda a pele branca e ser apenas morena". Sem make, mas feliz A ex-modelo e nutricionista holística Breanne Rice, de 39 anos, foi diagnosticada com vitiligo aos 19 anos, mas só depois de 10 anos usando maquiagem teve coragem e mostrou a pele ao natural pela primeira vez no seu Instagram. Breanne publicou uma foto e um texto impactante sobre como é o dia a dia com a doença, e só recebeu elogios. “Levou muito tempo para que eu conseguisse me mostrar desse jeito. Por que? Porque é meu rosto. Eu gostaria de dizer que sou super confiante e que não me afeta, mas às vezes acontece”, escreveu. A ex-modelo tem recebido muitas mensagens de apoio e agora se sente empoderada para deixar de usar maquiagem. “O fato de que tantas mulheres se identifiquem com o post diz muita coisa. Nossa cultura enfatiza demais as aparências. Ver mulheres criando mais confiança realmente me deixou mais feliz!”, concluiu em uma entrevista. “Eu me cobria e me sentia bonita” A modelo sul-africana Kgothatso Dithebe virou sensação na web ao contar sua história de superação depois do vitiligo e assumir a luta para mudar os padrões de beleza. Com uma marca de nascença que cobre metade de seu rosto, a modelo, de 23 anos, sempre sofreu com comentários maldosos e agressões quando era mais nova. Chegou ainda a ser informada, com apenas 15 anos, que teria que usar maquiagem para esconder a marca quando começou a trabalhar como modelo. "Quando estava na escola, costumava sofrer bullying verbal. Era chamada de todo tipo de nomes, as pessoas costumavam falar como a minha marca de nascença se parecia com o mapa da África. As pessoas ficavam me encarando bastante, achavam que eu tinha vitiligo. Isso me afetou de maneira muito ruim, então quando fui abordada pela primeira agência, me falaram que eu teria que usar maquiagem e ela se tornou a minha confiança", contou Kgothatso, completando: "Eu me cobria e me sentia bonita. Tive que reaprender a me amar. Agora para mim, [a marca] é parte de mim. Eu nunca passo maquiagem", disse em suas redes sociais. Aos 19 anos, contudo, ela resolveu abandonar os cosméticos e assumir a pele natural. "No começo eu estava assustada, não sabia como as pessoas iriam reagir. Eles conheciam o rosto que eu tinha com maquiagem e nunca tinha postado fotos sem maquiagem. Estava com medo e nervosa, mas simplesmente postei. Recebi muitos elogios e agora, se eu consigo trabalhos, os consigo com a minha marca de nascença. Clientes me veem e querem me usar porque eu sou diferente. Eles se lembram do meu rosto", contou. Desde então, Dithebe procura incentivar outras pessoas a assumirem seus verdadeiros visuais. "Muitas pessoas têm me abordado e tento motivá-las sobre autoconfiança e autoaceitação. É importante dizer a elas sobre o que eu passei e como aprendi a me amar", disse num post. Foto por: Divulgação Foto por: Divulgação Foto por: Divulgação Foto por: Divulgação Exibir legenda 1100
Dithebe.
Breanne Rice.
Winnie Harlow.
Sophia Alckmin.